Quais nações florescerão após o cenário catastrófico legado pela Covid-19? A liderança da Alemanha, em meio à tragédia sanitária e econômica, está consolidada. Um dos segredos do sucesso é sua chanceler, Angela Merkel. Ela tomou pra si a responsabilidade de defender a vida das pessoas e a economia, sem perder de vista a ortodoxia econômica, característica histórica do País. Com o intuito de evitar uma explosão de mortes, privilegiou o conhecimento científico e determinou a quarentena. Promoveu a massificação do testes e a higienização constante dos ambientes coletivos. Além disso, incentivou a manufatura de respiradores. Tal atitude levou ao menor número de infecção e mortes por Sars-CoV-2, na Europa. Para a dra. Raquel Stucchi, professora da Universidade de Campinas e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia, a Alemanha cumpriu os protocolos à risca. “Merkel passou a mensagem correta, valorizou a ciência e não politizou a pandemia”, afirma.

SEGURANÇA Estratégia incluiu proteção dos empregos e injeção de dinheiro: a renda das famílias foi preservada (Crédito:Michaela Rehle)

Pacotes anticrises

No terreno econômico, a Alemanha demonstra mais uma vez saber sair de crises complexas. No pós-guerra, os germânicos fortaleceram seu sistema de proteção econômica, sua estrutura bancária e permitiram amplo acesso ao crédito. Nas décadas de 70 e 80, os alemães mostraram resiliência na crise do petróleo. Venceram o impacto da reunificação a partir de 1990, um desafio hercúleo. A débâcle global de 2008-2009 foi superada porque os trabalhadores foram protegidos pelo programa conhecido como Kurzarbeit, em que o governo bancou parte dos salários, o que evitou o desemprego. Esse ano, a zona do Euro apresenta uma taxa de desemprego superior aos 11%, enquanto a Alemanha está com 6%. Para isso, o governo forneceu recursos diretamente às famílias, de até 15 mil euros. Também reduziu impostos e concedeu subsídios e empréstimos a taxas de juros baixas a pequenas e médias empresas. O pacote de resgate atingiu 55% do PIB, o mais generoso do mundo. Para Lucas Leite, professor de relações internacionais da Fundação Armando Álvares Penteado, Merkel liderou o bloco europeu. “Quando a pandemia passar, a economia alemã vai permanecer estável”, diz.

A Alemanha demonstrou mais uma vez saber sair de crises complexas

As medidas alemãs diferem em tudo das tomadas pelos EUA. Lá, o número de mortes na pandemia beira os 150 mil. Donald Trump desprezou a medicina e politizou o tema desde o início. Com o resultado catastrófico, as críticas internacionais se avolumaram. Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, Mohamed Younis, editor-chefe do instituto Gallup, disse que a pandemia pode afetar o status global de Washington. “A imagem de liderança dos EUA pode ser prejudicada pela forma como o governo combateu a infecção”, diz. A China, motor do crescimento mundial nas últimas décadas, também está sofrendo o impacto da crise. A sua economia passa por um período de turbulência por causa do endividamento, que já passa de 300% do PIB (na Alemanha, chegará a apenas 82% do PIB). No ano passado, o crescimento da economia chinesa foi 6,1%. Neste ano, esse número deve cair pela metade. Graças às estratégias econômicas precavidas e medidas restritivas, a Alemanha se firma como o vencedor da pandemia e emergirá no mundo pós Covid-19 como uma potência em posição de liderança mundial. Sorte da sua líder, que viu a popularidade disparar de 40% para 70%.