Com honradez, responsabilidade, probidade e boa dose de acanhamento, Rodrigo Maia ocupou o cargo de presidente da Câmara dos Deputados ao longo de quatro anos, seis meses e dezenove dias, o que lhe dá o recorde de parlamentar mais longevo na função, de forma ininterrupta, desde a redemocratização do Brasil, em 1985.

Maia chorou duas vezes copiosa e publicamente, e nisso não houve manha política: a primeira foi quando da aprovação da reforma da Previdência, a segunda no momento em que se despediu e entregou o comando da Casa ao deputado federal bolsonarista Arthur Lira. “Doutor Diretas Já” Ulisses Guimarães entrou para a história nesse mesmo cargo, que ocupou entre 1985 e 1989, com a promulgação de nossa Constituição Cidadã, uma das mais avançadas do mundo nas garantias fundamentais à dignidade humana. Maia perdeu a chance de se elevar ao mesmo patamar de Ulisses. Poderia ter ganho o título de melhor presidente da Câmara se tivesse mandado para casa o pior presidente do Brasil.

Rodrigo Maia teria sido o melhor presidente da Câmara se tivesse mandado para casa o pior presidente do Brasil

Com pelo menos sessenta e um pedidos de impeachment nas mãos (é claro que alguns não se prestam nem para retirar síndico de condomínio, mas, certamente, muitos outros tem sólida base porque foram chancelados por acadêmicos e juristas), Maia manteve-se paralisado e não tentou livrar os brasileiros de um presidente negacionista. Ele deveria ter reagido de forma definitiva já no começo das tentativas golpistas, quando Jair Bolsonaro endossou manifestações que pediam o fechamento das Casas Legislativas, do Supremo Tribunal Federal e o retorno da ditadura militar que tanto torturou e matou — ditadura contra a qual “doutor” Ulisses Guimarães sempre lutou, enfrentando baionetas e cães e bombas de gás. Maia preferiu, politicamente, soltar protocolares notas de repúdio a tais atos bolsonaristas, algumas delas somente no dia seguinte.

Maia poderia ter dado uma força para que ocoresse uma faxina no Poder Executivo. Optou por não fazê-la. Indiretamente, acabou atuando a favor de Bolsonaro ao não dar andamento a nenhum pedido de abertura de processo de impeachment, diante de tantos crimes de responsabilidade por ele cometidos. Em decorrência, involuntariamente, entregou a presidência da Casa ao bolsonarista Arthur Lira. De retorno à rotina de simples parlamentar, com certeza Rodrigo Maia, fique no DEM ou saia dele, mostrará vigor e luta contra as bolsonarices que cada vez mais assombrarão a Câmara dos Deputados e o País. Rodrigo será Rodrigo — afinal, o seu nome, na origem em latim, significa poderoso legislador.