Eu não sei quem, quando ou por que cunhou o termo “presidencialismo de coalizão” (no Brasil). Só sei que deve ser alguém do mundo político ou alguém muito educado, pois minha tradução do nosso sistema político-eleitoral é mais, digamos, sincera: conluio de oportunistas.

Confesso que gostaria de substituir “oportunistas” por “ladrões”, mas seria generalização de minha parte. Uns dois ou três por cento de nossos políticos e governantes não são nem uma coisa nem outra. Sim. Tem uma meia-dúzia de gente séria e bem-intencionada remando contra a maré.

O que se tem visto nos últimos dias no Congresso Nacional beira o surrealismo. Entre janeiro e abril deste ano foram quase 14 bilhões de reais em emendas parlamentares liberadas pelo governo. Em maio passado, em apenas um dia, foram quase 5 bilhões de reais. Coisa de louco.

A projeção é que até as eleições de outubro Lula libere 60% do total previsto para este ano, que deve chegar a estupendos 30 bilhões de reais. E tudo isso – pior ou não – não tem se traduzido em apoio no Legislativo. Até porque, convenhamos, apoiar este governo, mesmo bem-remunerado, é difícil.

Tudo isso, em meio ao crescente rombo fiscal e necessidade extrema dos municípios do Rio Grande Sul atingidos pelas enchentes, faz com que a pressão sobre o caixa do governo se traduza ou em ações de contigenciamento ou, o que anda acontecendo, em piora da percepção de risco do País.

O comportamento do câmbio reflete exatamente estas questões, ainda que as recentes declarações incendiárias do presidente e a própria valorização do dólar no mundo inteiro, derivem na alta recorde no ano.

O Brasil acostumou-se a andar na corda bamba. Ou melhor, os governos acostumaram-se a – em conluio com os demais Poderes – flertar eternamente com o abismo. É o que “eles” chamam de “coalização”.