Charles Baudelaire: “parece-me que estarei sempre bem aonde não estou”. Giorgio Caproni: “sossega, aonde você vai? Um fato está dado: você jamais chegará onde já está”. Assim, dois dos principais poetas da humanidade falaram sobre a aflição da ansiedade e da depressão das quais sofriam. Baudelaire fez, a partir de seu sofrimento, um conciso diagnóstico – até hoje, nos consultórios de psiquiatras, ouve-se: “nunca estou emocionalmente à vontade nos lugares aonde estou”. Como se vê, somente uma variação do verso de Baudelaire. Quanto à Caproni, quando diz “sossega” porque jamais “você chegará onde já está”, é como se ele propusesse uma forma de aplacar a inquietação e a dor da ansiedade por meio da literatura – e, quando as letras se ocupam de uma doença, é porque ela é bastante grave.

Vamos agora ao campo especializado da medicina. No dia 7 de abril serão justamente o transtorno da ansiedade generalizada e sua irmã depressão as psicopatologias que servirão de tema para os alertas que sempre são dados nessa data pela Organização Mundial da Saúde. Para o Brasil, o 7 de abril merece atenção especial, até porque o tal alerta acende aqui mil e uma lâmpadas vermelhas: nós somos, segundo a própria OMS, o País que apresenta o maior índice de portadores de ansiedade em todo o planeta: 9,3% da população, ou seja, cerca de 20 milhões de pessoas – marca três vezes superior à média mundial. Quanto à depressão, a OMS estima que 5,8% de brasileiros (11,5 milhões de pessoas) padeçam dessa enfermidade – no mundo, atualmente, ela acomete 322 milhões de doentes.

O Brasil tem o maior índice de portadores de ansiedade em todo o planeta. São cerca de 20 milhões de pessoas. Quanto à depressão, 11,5 milhões de brasileiros sofrem dessa enfermidade

Focando no Brasil, o tema também cresce em importância porque, aqui na Ilha de Vera Cruz, portadores de ansiedade são vistos como intencionalmente açodados e deprimidos levam a pecha de vagabundos e desinteressados em se tratar. Não é nada disso. A doença é deflagrada pelo gatilho genético e, muitas vezes, pelo dedo ambiental. O comportamento de não adesão ao tratamento faz parte da enfermidade assim como o espirro faz parte da gripe. Outro ponto relevante no País é que a bebida alcoólica, que tem enganoso, perigoso e nocivo efeito ansiolítico no sistema nervoso central, vem sendo cada vez mais consumida (sobretudo por jovens) para aplacar a ansiedade. Ela, na verdade, não aplaca nada e agrava tudo. E só cria outras morbidades.


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