BRASILEIROS DO ANO
João Doria – Política

O cálculo do Comitê de Contingência do Coronavírus do governo de São Paulo, com base em algoritmos científicos, estima que o fato de o governador João Doria ter iniciado a vacinação contra a Covid no dia 17 de janeiro deste ano, e não em abril, como desejava Bolsonaro, salvou cerca de 260 mil vidas. Se a imunização tivesse sido iniciada em dezembro, como planejava o Instituto Butantan, outras 150 mil mortes poderiam ter sido evitadas. Esses números foram revelados esta semana por Doria, eleito pelos editores da ISTOÉ o “Brasileiro do Ano na Política”, exatamente por sua luta para introduzir as vacinas em todo o País. “Fico lisonjeado com a homenagem, mas lembro que se não fosse esse esforço conjunto de todos os servidores da Saúde de São Paulo, feito para distribuir 110 milhões de doses da Coronavac, e começar imediatamente a imunização, talvez, hoje, não tivéssemos o sucesso que estamos tendo no combate à doença. Pressionamos o governo federal a antecipar o prazo originalmente previsto pelo Ministério da Saúde”, disse Doria, acrescentando: “Em São Paulo, a ignorância não venceu”.

Apesar da vitória reconhecida por todos os governadores e infectologistas brasileiros, Doria vem alcançando números baixos nas pesquisas eleitorais, o que, segundo ele, já era de se esperar. “Ao lado da vacina, vieram medidas restritivas, a obrigatoriedade do uso da máscara, o fechamento do comércio, a quarentena, a obrigatoriedade do uso de máscara no transporte público, e elas impactaram negativamente. Eu reconheço isso.” Mesmo assim, acha que fez o certo para proteger vidas. “Entre a popularidade e a credibilidade, preferimos ficar com a credibilidade. Fizemos o caminho da valorização da vida, sem pensar no interesse eleitoral”, declarou. Ele acredita que, quando a campanha eleitoral começar para valer, as pessoas entenderão que foi graças à vacina que estão vivas e que seus familiares e amigos também poderiam estar vivos se tivessem se imunizado antes.

Doria está convencido de que a sua popularidade aumentará quando visitar todos os estados e as principais cidades brasileiras. “Subiremos nas pesquisas a partir de abril, quando vamos colocar o pé na estrada. Ele explica que partir de 2 de abril, quando se desincompatibilizar do governo por força da lei, será candidato em tempo integral e, daí, a campanha vai deslanchar. “Essa história de largar em baixa nas pesquisas não é novidade para mim.” Na eleição para prefeito de São Paulo, em 2016, Doria estava com 2% a oito meses das eleições e hoje, faltando 11 meses para o pleito, está com esse mesmo percentual. “Acabei vencendo a eleição no primeiro turno, o que foi um feito histórico. Isso nunca tinha acontecido desde que as eleições passaram a ter votação em dois turnos.”

Já em 2018, na disputa pelo governo de São Paulo, ele também iniciou a campanha com poucas chances. “Me consideravam derrotado e me elegi contra o candidato da esquerda, o Márcio França, com o apoio do PT”, disse, reafirmando sua expectativa de repetir 2016 e 2018. Por isso mesmo, procura outros partidos para alianças que o coloquem como candidato da terceira via para derrotar Lula e Bolsonaro, considerados por ele como populistas nocivos ao futuro do Brasil. “Vou mostrar o que fiz em São Paulo. Não precisei nem roubar e nem quebrar o País, acabando com o teto de gastos.” Doria quer provar que o Brasil tem jeito e entende que os eleitores se convencerão disso.

Foco no trabalho

João Doria Junior, que completou 64 anos no último dia 16, é um predestinado ao sucesso. Começou uma carreira de vitórias no mundo publicitário e empresarial ainda criança. O seu pai, João Doria, deputado federal (PDC-BA) e publicitário renomado, foi cassado pela ditadura militar de 1964 e forçado a se exilar na França. O garoto João, aos 13 anos, queria mesmo era fazer publicidade. Arrumou emprego de office-boy numa agência de publicidade. Com 14 anos, porém, sofreu mais um baque: o pai retornou do exílio, mas sua mãe morreu de pneumonia. Ainda adolescente, e já graduado em comunicação, assumiu uma diretoria na antiga TV Tupi e não parou de crescer no ramo das comunicações, onde tem hoje um império de empresas que giram em torno do Grupo Lide, do qual está licenciado para cuidar da meteórica trajetória política. Embora tenha sido eleito prefeito e governador, os dois únicos cargos eletivos que disputou, teve experiências administrativas anteriores. Aos 21 anos, presidiu a Paulistur na gestão de Mário Covas e, aos 24, foi presidente da Embratur. Lá, conheceu sua mulher Bia. Ao final desse período, retomou o trabalho em suas empresas de publicidade, foi apresentador de programas de TV e editor de revistas, com as quais obteve grande êxito financeiro. Agora vai colocar à prova essa facilidade em obter resultados positivos, mesmo na adversidade.