Na noite de quarta-feira, 8, Michel Temer havia acabado de jantar quando o celular tocou. Na linha, um Bolsonaro aflito. Queria conselhos para uma saída honrosa para o caos político provocado pelo discurso de Sete de Setembro. Temer prometeu ajudar. Com a participação do publicitário Elsinho Mouro, o ex-presidente elaborou a “Carta à Nação”, prevendo a pacificação dos Poderes. Temer ligou a Bolsonaro e leu o que havia escrito. O mandatário gostou. Com a rendição, o ex-capitão mandou um jato da FAB buscá-lo às 6h da manhã de quinta-feira. Às 10h, a carta estava na mesa. Bolsonaro acrescentou algumas coisinhas. Na hora do almoço, com a participação apenas de Bolsonaro, Temer e Bruno Bianco (AGU), foi feito o texto final. O recuo estava consolidado e mais uma crise contornada.

O telefonema

Temer solicitou, então, que o presidente pedisse desculpas ao ministro Alexandre de Moraes. A conversa já estava combinada pelo ex-presidente e Moraes desde a véspera. O diálogo foi cordial. Bolsonaro fez uma brincadeira, dizendo que a única divergência que tinha com o ministro era no campo esportivo: afirmou que ele é palmeirense e Alexandre, são-paulino.

Impeachment

À ISTOÉ, Temer diz que intermediou a crise para evitar uma ruptura institucional. “Eu poderia ficar em casa vendo o circo pegar fogo, torcendo para o quanto pior, melhor. Mas omisso eu não sou”, disse o ex-presidente, que resolveu arregaçar as mangas para “ajudar o País”. Era a pessoa certa. Em 2018, Temer se livrou de dois pedidos de impeachment.

“O leão virou um rato”

Divulgação

Após Bolsonaro divulgar nota pedindo desculpas a Alexandre de Moraes, as reações foram as mais variadas, desde os políticos da oposição aos da situação. Carla Zambelli disse que ficou “frustrada”. O blogueiro Allan dos Santos ficou furioso: “game over”. Outros, como Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, exaltaram a harmonia dos poderes. O mais ferino de todos foi João Doria: “O leão virou um rato”, disse.

Retrato falado

“Estamos entrando em estagflação, com o PIB crescendo 1% e uma inflação de 10% em 2022” (Crédito:Claudio Belli)

O economista Heron do Carmo, da FEA/USP, diz que o Brasil está em processo de estagflação, que é a situação em que se combina inflação elevada com baixo crescimento. Explica que os fundamentos da economia já estavam deteriorados com a alta dos alimentos e a crise hídrica, mas foram agravados com a instabilidade política. “Este aumento das incertezas leva à piora da atividade econômica.” O crescimento do PIB, que seria de 2,5% em 2022, agora não deve passar de 1%.

Explosão dos juros

A taxa de juros sempre foi um remédio amargo para conter a inflação. Quando as taxas inflacionárias atingem índices como os atuais, beirando os 10% ao ano, o BC aumenta a dose para matar o mal pela raiz. Na próxima reunião do Copom, dias 21 e 22,
a Selic deve subir mais 1,25 ponto percentual, aumentando a taxa de juros para 6,50% ao ano. Há os que preveem juros de 10% no início de 2022. Basta lembrar que no ano passado a Selic caiu a 2%, a mais baixa da história. O problema é que a má gestão
de Guedes inviabilizou a recuperação da economia, sobretudo após a deflagração de crises políticas intermináveis, o que derrubou o crescimento e gerou o descontrole fiscal.

Inflação nas nuvens

Em agosto, o IPCA foi de 0,87%, a maior taxa para o mês em 21 anos. O acumulado nos últimos doze meses é de 9,68%. A economia está em transe. Os mais pobres estão apavorados porque estão vendo o preço dos alimentos disparar e os mais ricos, porque constatam que a recuperação econômica está indo para o brejo.

Mais um militar na berlinda

Após o fiasco do general Eduardo Pazuello, que jogou as Forças Armadas no centro da crise na Saúde, agora é a vez do almirante Bento Albuquerque colocar os militares no olho do furacão da ineficiência administrativa. A pasta que dirige, a de Minas e Energia, deverá ser acusada de incompetência quando os apagões acontecerem no final do ano.

“Eu avisei”

E o almirante já está sendo responsabilizado pela crise energética. A saída do militar será dizer, como está fazendo, que ele vem alertando o presidente do risco de desabastecimento desde outubro do ano passado, mas ninguém lhe dá ouvidos. Albuquerque, contudo, tem outros números mais importantes: em junho, seu salário foi de R$ 142 mil.

Influencer pornográfico

Reprodução / Instagram

Jair Renan Bolsonaro, o filho 04 do presidente, só tem dado dor de cabeça ao pai, sobretudo quanto às postagens que faz em seu Instagram. Promove stories para lá de rumorosos, como o que gravou recentemente com Bruno Pereira da Silva, conhecido como Bruno Diferente, no Tik Tok. Ocorre que o rapaz é tido como influencer que faz vídeos frequentes em sites pornográficos.

Toma lá dá cá

José Sarney, ex-presidente da República (Crédito:Marcos Oliveira)

O que o senhor achou da atuação do ex-presidente Michel Temer na intermediação da crise entre o presidente Bolsonaro e os demais Poderes?
O que deu para notar é que a atitude de Michel Temer ajudou muito a melhorar o clima de tensão que passou a existir no País, sobretudo após o Sete de Setembro.

Qual a opinião do senhor sobre escalada autoritária do presidente Bolsonaro?
Prefiro não julgar nem meus antecessores e nem meus sucessores. Não tenho esse costume e essa prática política.

A que o senhor atribui as atitudes e ameaças feitas à democracia pelo presidente Bolsonaro nos últimos tempos?
Como já disse, prefiro não julgar, mas posso garantir que sou contra todo e qualquer tipo de autoritarismo.

Rápidas

* Uma semana após o presidente incitar seus seguidores ao golpe, os caminhoneiros ainda tumultuavam as estradas, colocando em risco o abastecimento. O ex-ministro da Segurança Raul Jungmann diz que o mais surpreendente é que Bolsonaro é o líder dos baderneiros.

* Estudo feito pela FGV mostra que a taxa de desemprego para os mais pobres aumentou de 26,55% para 35,98%. Já entre os mais ricos, a falta de trabalho subiu de 2,6% para 2,87%. O pobre sempre acaba pagando o pato.

* O prefeito do Rio, Eduardo Paes, deve ser candidato ao governo do Estado. E contará com o apoio do ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e do governador João Doria. Terá Marcelo Freixo como um dos principais adversários.

* Geraldo Alckmin está numa sinuca de bico. Quer disputar o governo de São Paulo e pensa em se filiar ao PSD. Ocorre que o partido de Kassab pode apoiar Lula, e será engraçado ver o tucano no palanque do petista.