10/10/2016 - 17:15
Vestida com um longo vermelho, Rafeea al Hajsi avança com passos decididos pela passarela do Arab Fashion Show em Dubai, orgulhosa de ser a primeira supermodelo dos Emirados Árabes Unidos após anos de luta contra os costumes mais tradicionais.
“Quando sinto os flashes sobre meu rosto, minha vida se ilumina e algo me diz que a fama internacional não está longe”, explica essa jovem morena de cabelos longos e olhos castanhos.
Entusiasmo, medo e alegria se misturam quando desfila, confessa em entrevista à AFP enquanto se prepara para apresentar na tarde do último domingo as criações da estilista libanesa Aiisha Ramadan.
“É incrível estar na passarela, é um sentimento agradável que desfruto com toda minha alma”, diz a modelo, que diz gostar muito das fotos.
Seu celular não para de tocar, e ela usa o aparelho para fazer selfies e ver vídeos ou imagens suas ao vivo no aplicativo Snapchat.
Rafeea al Hajsi se orgulha de ser a primeira modelo dos Emirados, mas diz que o caminho foi cheio de obstáculos nessa sociedade muçulmana conservadora em que várias mulheres usam os véus islâmicos pretos que cobrem da cabeça aos pés.
“Acredito que sou muito valente em trabalhar nesse mundo”, diz, lembrando que “foi muito difícil me transformar em modelo sendo dos Emirados”.
Hajsi começou a desfilar com a roupa tradicional dos Emirados, “esperando que lentamente a sociedade se abrisse um poco”. Teve que esperar “oito anos para chegar até onde me veem hoje”.
A modelo, que não revela a idade, trabalhou como locutora de rádio e apresentadora de televisão, o que lhe deu a chance de abrir caminho no mundo da moda.
‘Sacrifício’
Seu primeiro desfile em uma semana de moda foi no início desse ano em Paris, quando desfilou para o estilista libanês Ziad Nakad na passarela de Alta-costura.
Emn Dubai, inaugurou a terceira edição da Arab Fashion Week antes de voltar a desfilar no domingo para a estilista Aiisha Ramadan, vestida com um longo vestido vermelho de manga única em uma entrada na passarela e com um vestido preto sem mangas em outra entrada, duas peças-chaves da coleção para a próxima primavera/verão.
“Rafeea representa a mulher árabe adorável”, diz Ramadan, em entrevista à AFP. “Fizemos ela usar algo muito sensível para mostrar que a mulher árabe sabe usar as coisas simples que lhe oferecem”, destaca.
Para a estilista, “as clientes se identificam” com essa modelo, que “tem cintura”.
Aiisha Ramadan reconhece que as modelos árabes enfrentam “restrições” que as distanciam dos desfiles. “Para que uma modelo tenha status internacional tem que mostrar boa parte do corpo e isso pode ser inaceitável em sua cultura”, adverte.
Rafeea admite: “há limites que sempre levo em conta”. “É doloroso. As vezes vejo um vestido que gostei muito e que o estilista quer que eu use, mas não posso porque a modelagem não é apropriada para a nossa sociedade”.
“Sacrifico desfiles internacionais que poderiam ser uma boa oportunidade para mim”, acrescenta, afirmando que “permanece conservadora” na roupa que veste.
Mas diz que os Emirados estão “cada vez mais abertos para a moda”, como demonstra a Arab Fashion Week, que termina nesta segunda-feira.