Cultura e curiosidade eram duas das principais características do último imperador brasileiro D. Pedro II. Apreciador das artes e da ciência, o monarca sempre foi um adorador de histórias e viagens. Seu interesse começou desde a infância, quando o menino passou a ter contato com uma coleção de objetos e pinturas que foi comprada por seu pai, D. Pedro I, em 1826. O acervo continha antiguidades que foram escavadas na necrópole de Tebana, onde hoje é Luxor, no templo de Karnak. Mesmo tendo governado o país por 58 anos, o imperador só viajou três vezes ao exterior por conta de diversos problemas graves internos no Brasil. Dentre essas viagens, duas foram ao país que mais o instigava, o Egito. Ele adorava estudar a antiguidade da civilização por meio das grandes escavações que, naquela época, estavam apenas começando. O Imperador não só gostava de visitar, como deixava tudo registrado por meio de fotos. Ao todo foram mais de 30 mil fotografias ­— feitas por ele e por fotógrafos que faziam parte de sua comitiva — a maior pertencente a um governante do século XIX.

Desde a última quarta-feira, 3 de novembro, cerca de 90 reproduções dessas fotografias estão expostas no Cairo, mais precisamente, no Centro de Arte de Gezira, no bairro de Zamalek. A exposição promovida pela Embaixada do Brasil no Egito em parceria com o Ministério da Cultura do país é uma homenagem aos 150 anos da primeira visita de D. Pedro II ao Egito em 1871 — a segunda viagem ocorreria cinco anos mais tarde. “’De volta ao Egito’ mostra um patrimônio brasileiro de valor inestimável, e estamos dando a oportunidade a muitos egípcios de ver, pela primeira vez, fotografias tiradas em seu país há 150 anos”, explica Fernanda Mansur, chefe do Setor Cultural da Embaixada.

Esse material pertence a Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro e integra a coleção Dona Thereza Christina Maria. Além das fotografias, algumas reproduções das anotações do diário do imperador também estão expostas. O conjunto de documentos foi o primeiro do Brasil a ser reconhecido pela Unesco como um dos mais importantes da história da humanidade. “É muito relevante ver esses documentos expostos, pois fiquei mais de 20 anos trabalhando em sua restauração”, afirma Joaquim Marçal, Coordenador da Biblioteca Nacional.

Existem pontos de encontro entre a história do Brasil e do Egito no século XIX. Ambos territórios eram governados por monarquias que trouxeram estabilidade a seus povos e promoveram a modernização de suas sociedades. Entre as imagens da exposição, a mais importante é a do imperador, junto com sua esposa, a imperatriz Thereza Christina, e a comitiva imperial aos pés da Grande Esfinge de Gizé, com a pirâmide de Quéfren ao fundo. “As relações bilaterais passam por um momento positivo e é um ótimo momento para se fazer uma exposição tão grandiosa”, afirma o embaixador do Brasil no Egito, Antônio Patriota.