[posts-relacionados]Durante alguns anos, empresários como Eike Batista e Joesley Batista eram exemplares brasileiros de êxito nos negócios. Em 2012, Eike apareceu em sétimo lugar na lista de maiores bilionários do mundo, de acordo com a revista Forbes. Dizia que desbancaria o mexicano Carlos Slim, então o mais rico do mundo. Joesley, um dos donos da JBS, também figurou em um ranking da Forbes que elencava as famílias brasileiras mais abastadas. Hoje, quem diria, após escândalos, prisões e confiscos, os dois experimentam o infortúnio, rotina comum a muitas famílias brasileiras: estão vendendo ativos e bens, antes símbolos do sucesso pessoal, para pagar dívidas, acordos e fianças.

Joesley Batista, antes de aparecer no noticiário envolvido na Operação Lava Jato e como delator que tentou abalar o governo, era conhecido pela vida de luxo que ostentava. Seu casamento com a jornalista Ticiana Villas Boas, uma festa avaliada em R$ 6 milhões, teve shows de Ivete Sangalo e da dupla sertaneja Bruno & Marrone e uma bolsa Chanel atirada aos 1.500 convidados. A cerimônia foi uma pequena amostra do tamanho do patrimônio e do poder de Joesley. O empresário tem um iate, o Leonardo 100, do estaleiro Azimuth, uma embarcação de 98 pés (30,4 metros) com três andares, quatro quartos e capacidade para 25 pessoas, avaliada em US$ 10 milhões. Joesley tem ainda um apartamento em Nova York de 685 metros quadrados, para onde foi quando assinou o acordo de delação premiada, e uma ilha em Angra dos Reis, comprada do casal Luciano Huck e Angélica em 2013.

Envolvidos em escândalos, os bilionários viram seus impérios
desmoronar e agora são obrigados a se desfazer de ativos e bens de luxo

Liquidação

Agora, a plaquinha de vende-se está afixada defronte aos três bens – o iate, a ilha e o apartamento em Nova York. Após perder mais de R$ 2 bilhões em valor de mercado desde maio, quando a delação deixou de ser sigilosa, a holding passou a se desfazer de alguns ativos em um processo de desinvestimento para quitar dívidas com bancos e pagar a multa de R$ 10 bilhões do acordo de leniência acertado com o Ministério Público Federal (MPF). A J&F já vendeu a Alpargatas, dona da marca Havaianas, por R$ 3,5 bilhões; a empresa de laticínios Vigor, por R$ 5,7 bilhões; a Eldorado, de papel e celulose, por R$ 15 bilhões; e o frigorífico Moy Park, na Irlanda, por US$ 1,3 bilhão. De acordo com um especialista em mercado financeiro que preferiu não se identificar, em casos como esse a empresa precisa de liquidez rapidamente e acaba vendendo parte de seus ativos com valores abaixo do que poderiam ser alcançados em outras circunstâncias, mas não são necessariamente indícios de que o grupo esteja “quebrado”. A venda dos bens pessoais de Joesley faz parte desse processo. Preso desde setembro na superintendência da Polícia Federal em São Paulo, acusado de omitir detalhes na delação, o empresário busca interessados em pagar R$ 45 milhões pelo apartamento em Nova York e R$ 25 milhões na ilha em Angra. Enquanto ele e o irmão, Wesley, estão presos, José Batista Sobrinho, pai dos dois e fundador da JBS, preside a empresa.

O caso de Eike Batista representa uma ascensão e queda tão vertiginosas quanto espetaculares. O Grupo X, império construído pelo empresário, contava com usinas térmicas, mineradoras, petroleiros e estaleiro e se fortaleceu durante a política de campeões nacionais do ex-presidente Lula. No auge do período de euforia, Eike ostentava carros exclusivos, como uma Mercedes Benz SLR McLaren, avaliada em US$ 1,2 milhão, em 2006, e uma Lamborghini Aventador, modelo vendido no Brasil a pouco mais de R$ 3 milhões. Os carros esportivos eram tratados como obras de arte e exibidos na sala da casa do empresário. Depois que algumas promessas de Eike se mostraram um delírio, algumas de suas empresas entraram em dificuldades. Em janeiro deste ano, teve sua prisão decretada pelo juiz Marcelo Bretas. Denunciado pelo MPF por corrupção e lavagem de dinheiro, cumpre hoje prisão domiciliar. Segundo a Forbes, a queda de seu patrimônio é uma das maiores da história. Depois de alcançar um patrimônio de US$ 34 bilhões, tornou-se um bilionário negativo, ou seja, ficou nove dígitos no vermelho, e agora conta com pouco mais de US$ 100 milhões, de acordo com a Bloomberg.

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As dívidas e cobranças continuam. O Bradesco, um de seus maiores credores, luta na justiça para receber mais de R$ 1 bilhão do empresário. Assim como Joesley, Eike ainda tenta se desfazer de alguns bens. Compõem a lista um jet ski, a Lamborghini Aventador e lanchas como a Spirit of Brazil Intermarine 680, de 68 pés (20,7 metros), avaliada em R$ 3,5 milhões.

Outra derrocada famosa é a do ex-presidente do Jockey Club de São Paulo, José Carlos Fragoso Pires. Conhecido tanto pelo império constituído por 27 empresas, incluindo a outrora poderosa companhia de navegação Frota Oceânica, quanto pelas festas luxuosas que garantiam sua presença cativa nas colunas sociais, Fragoso Pires enfrenta problemas financeiros desde o final da década de 1990. Vendeu corretora, apartamento em Nova York, mansão em Angra dos Reis e jato particular, entre outros bens. Apaixonado por cavalos ingleses, teve que reduzir as atividades de seu haras. Em 2013, colocou à venda o tríplex de 3.800 metros quadrados onde mora, na praia do Flamengo, no Rio de Janeiro. O espaço serviu de cenário para a novela “O Outro Lado do Paraíso”. Um título sugestivo, a ilustrar a derrocada dos bilionários.

NOTA DA JBS

“A JBS S/A esclarece que, diferentemente do que aponta a reportagem O ocaso dos bilionários, a alienação da empresa britânica Moy Park está inserida no programa de desinvestimentos da JBS S/A, formalmente anunciado ao mercado em 20 de junho de 2017, que tem como objetivo exclusivo garantir a redução do endividamento líquido da companhia, fortalecendo a sua estrutura financeira. Não tem, portanto, qualquer relação com a multa a ser paga pela holding J&F como parte do acordo de leniência assinado com o Ministério Público Federal”

NOTA DA J&F

“A reportagem “O Ocaso dos Bilionários” erra ao sugerir que a J&F teria vendido ativos por valores abaixo dos de mercado. Trata-se de uma especulação sem fundamento, que se torna ainda mais frágil ao partir de um especialista não identificado. A verdade é que o êxito das negociações realizadas pelo grupo até o momento foi amplamente reconhecido pelo mercado e demonstrou claramente a alta qualidade dos ativos da J&F.
Assessoria de Comunicação da J&F Investimentos”


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