Perto de completar 34 anos de existência, o PSDB nunca esteve tão próximo de acabar. O atual imbróglio, que levou João Doria a desistir da candidatura, expôs as mazelas de um segmento do partido que travava uma luta árdua para manter o legado histórico de uma legenda defensora da social-democracia, arquitetada por gente como FH, Covas, Teotônio, entre outros. Foi a esse grupo que Doria se alinhou. A luta se deu contra um outro grupo, o fisiológico, que tentou o tempo todo entregar a sigla nos braços do bolsonarismo. Nesse jogo, Doria sofreu todo o tipo de traição, a começar pela Executiva Nacional, por Aécio, Jereissati, Eduardo Leite, etc, que não conseguiram esconder a pretensão de transformar o partido numa linha auxiliar do Centrão.

Arapuca

Antes de destruir o partido, a turma liderada pela cúpula do partido, sob coordenação de Aécio, resolveu aniquilar a candidatura de Doria. Assim, armou-se uma arapuca. Primeiro, concordaram com as prévias, imaginando que Doria perderia. Depois, criaram a farsa de que o candidato da terceira via, com MDB e Cidadania, seria escolhido por pesquisas.

Fajutice

A direção do PSDB, então, escolheu Paulo Guimarães para elaborar a pesquisa. O publicitário é ex-assessor de Aécio. E, com base numa pesquisa fajuta, as lideranças da terceira via disseram que Simone Tebet seria melhor opção, mas em todos os demais levantamentos Doria obteve o dobro de chances do que a emedebista. Um jogo para tirá-lo do páreo.

Lula casa com o Centrão

Neto Talmeli

Momentos antes de casar, Lula intensificou acordos no instituto que leva seu nome. Foi lá que articulou a união com Gilberto Kassab para seu palanque em MG. Candidato a governador pelo PSD, Alexandre Kalil terá um vice do PT, possivelmente André Quintão, enquanto Alexandre Silveira (PSD) disputará a reeleição pelo Senado. Reginaldo Lopes (PT) se contentou com a coordenação da campanha de Lula no Estado.

Retrato falado

“É provável que eu seja candidato ao Senado por São Paulo, mas isso ainda está em construção” (Crédito:Jonny Ueda)

Sergio Moro já foi cotado para ser candidato a presidente, mas em função de suas escolhas equivocadas deixou o Podemos em direção ao União Brasil (UB) e ficou confinado a uma candidatura ao Senado ou a deputado federal por São Paulo. Se sair candidato a senador, terá que se entender com Rodrigo Garcia, já que o UB fechou acordo com o candidato do PSDB a governador. Se sair candidato a deputado, o UB aposta que ele fará votos suficientes para eleger mais cinco deputados.

Toma lá dá cá

Izalci Lucas, líder do PSDB no Senado
Izalci Lucas, líder do PSDB no Senado (Crédito:Roque de Sá)
Roque de Sá

A Executiva do PSDB errou na costura da candidatura de Doria?
Faltou articulação de Doria com os partidos e com o próprio PSDB. Ele delegou a Bruno Araújo a negociação e aceitou a construção da candidatura única. Sem consenso no tucanato, as demais siglas não sentiram segurança.

O que significa Rodrigo Garcia estar atrás nas pesquisas em São Paulo?
Rodrigo ainda tem tempo para crescer. O duro é que Doria não recebeu reconhecimento pelo trabalho que fez. Realizou um ótimo governo, que não se traduziu em aprovação.

Ainda é possível um candidato único da terceira via?
Pesquisas mostram que 55% da população não quer a polarização. Ainda há a possibilidade de termos uma terceira via viável.

Crise na relação

Embora o matrimônio do PT de Lula com o PSB de Alckmin tenha dado certo, em alguns estados a união está acabando em divórcio. No Rio Grande do Sul é onde o namoro entre os dois partidos está dando com os burros n’água. O PT não abre mão de ter Edegar Pretto como candidato ao governo, enquanto os socialistas batem o pé com Beto Albuquerque. Como nenhum dos dois arreda pé, Beto tem dito que pode apoiar Ciro Gomes, do PDT. As divergências acontecem ainda no Acre, Espírito Santo e São Paulo. No Espírito Santo, o governador Renato Casagrande é candidato à reeleição e o senador Fabiano Contarato (PT) também quer disputar o posto.

Impasse em SP

Em São Paulo, os candidatos do PT e do PSB não se entendem. O petista Haddad acha que pode derrotar o PSDB, há 30 anos no poder, enquanto o socialista Márcio França entende reunir mais condições de vencer o pleito. Como nenhum dos dois cede, é provável que ambos morram afogados na praia.

“Pau mandado”

A luta por uma vaga no Senado por São Paulo promete virar uma disputa de comadres rabugentas. Amigas até recentemente, Janaína Paschoal e Carla Zambelli pretendem disputar o Senado e já trocam farpas. Janaína diz que Zambelli é “pau mandado” de Bolsonaro. Na eleição para a Assembleia de SP em 2018, Janaína fez mais de dois milhões de votos.

Divulgação

Divisão na direita

Enquanto Janaína ataca, Zambelli diz que já conversou com Bolsonaro a respeito e que ela não pretende dividir a direita, mas que está pensando seriamente em disputar o Senado. Ao rebater os ataques de Janaína, a deputada do PL-SP diz que “é por essa e por outras que me aconselham a considerar o Senado”. O capitão quer mesmo é o radialista Datena.

Chapa Frankenstein

Divulgação/Ministério da Agricultura

A ex-ministra da Agricultura, Tereza Cristina, do PP de Ciro Nogueira, deverá ser candidata ao Senado na chapa encabeçada por Eduardo Riedel, candidato a governador pelo PSDB de Bruno Araujo. A chapa, por incrível que pareça, terá apoio do presidente Bolsonaro. Mesmo que João Doria sustentasse a candidatura, se meteria num ninho de cobras nas campanhas estaduais tucanas.

Rápidas

* Alexandre de Moraes foi à forra na posse dos ministros do TSE na semana passada, evento no qual Bolsonaro lhe estendeu a mão para um cumprimento formal. Ao ter seu nome anunciado na cerimônia, Moraes foi aplaudido efusivamente por 30 segundos. Bolsonaro ficou estático.

* Apesar de Doria ter desistido da candidatura, o escritório de campanha na avenida Brasil, nos Jardins, ficará aberto ainda pelos próximos dois meses. O PSDB continuará pagando os custos de R$ 2 milhões.

* Parecer contrário do deputado Carlos Sampaio, do setor jurídico do PSDB, sobre a judicialização de Doria em eventual processo contra o desrespeito ao resultado das prévias, pesou na decisão do ex-governador sobre o assunto.

* Lula está morando numa mansão com 700 metros quadrados e oito banheiros no elegante bairro do Alto de Pinheiros. Se lhe perguntarem se comprou ou se alugou, vai dizer que a casa foi emprestada por um amigo.