Quem não se lembra dos filmes de cowboys?

Ô coisa boa que era assistir, na Sessão da Tarde, os filmes desse gênero.

O roteiro tinha sempre aquela hora que um bando de bandidos tomava a cidade com os rostos cobertos por lenços, desciam dos seus cavalos atirando em todas as direções, invadiam o banco e fugiam com sacos de dinheiro.

O xerife e seus auxiliares, coitados, não tinham nenhuma chance.

Só mesmo quando o John Wayne entrava em cena é que os bandidos se davam mal.

As semelhanças desses filmes com os recentes assaltos de Criciúma e Cametá são inúmeras.

Só não temos um John Wayne para nos salvar.

Em compensação ao invés de cavalos nossos bandidos avançam em intrépidas SUVs.

Não deu para ver, mas suspeito que deveriam, como seus antepassados, estar usando máscaras.

Digo isso porque ficou claro que eram bandidos responsáveis, pois quando saíram em comboio da cidade, estavam com os pisca-alertas ligados.

Afinal, roubar bancos tudo bem, mas causar acidentes de trânsito, aí é demais.

Então é de se supor que também não queriam contaminar ou ser contaminados pelo coronavirus.

Em pleno Século XXI, estamos vivendo o mesmo drama dos filmes de cowboy.

Assaltos igualmente cinematográficos.

No Novo Velho Oeste brasileiro, nossos xerifes também não têm a menor chance.

Numa cidade média ou pequena, é impossível estar preparado para um ataque como os que vêm acontecendo.

Verdade que de novo esse Novo Cangaço não tem nada.

A modalidade surgiu lá pelo final dos anos 90, principalmente em cidades pequenas e médias do Nordeste, daí o nome.

A suspeita é que esses dois casos estejam relacionados com a queda do consumo de drogas durante a pandemia.

O tráfico, com baixo faturamento, decidiu empreender em novos setores da economia ilegal.

Com esses dois casos tomando conta da mídia e das redes sociais, começam a surgir palpites para resolver o problema.

Alguns afirmam que essas ocorrências deveriam ser um alerta para o Congresso agilizar o porte de armas. Faz sentido.

Se os populares que filmam os assaltos de suas janelas trocassem os celulares por revólveres, aí sim poderíamos fazer jus aos westerns.

Nada como uma gente destreinada fazendo justiça com as próprias mãos.

Outros alegam que é mais importante agir com a cabeça do que com os gatilhos. Para esses, precisamos de uma polícia centralizada com foco na inteligência para se antecipar a essas ocorrências.

No Faroeste brasileiro, ao invés de cavalos, nossos bandidos avançam em intrépidas SUVs.

Não acho que nenhuma das duas saídas seja a solução.

Afinal, basta que a cidade tenha uma agência bancária para ser um alvo.

As dimensões do Brasil e a infinidade de municípios tornam praticamente impossível evitar que assaltos como esses aconteçam. Pior que isso.

Existe um aspecto subjetivo e ainda mais preocupante.

No assalto de Criciúma, uma cena em particular mostra cidadãos comuns catando dinheiro na rua, aparentemente alheios ao fato de que estavam se tornando cúmplices dos assaltantes.

Alguém chega a gritar “estou rico!”, como se o dinheiro que saiu de um banco e caiu da caçamba de um dos veículos dos ladrões não tivesse dono.

Bandidos e assaltos a bancos sempre fizeram e capturaram o imaginário popular.

Não é à toa que os filmes do velho oeste fizeram tanto sucesso.

Nem é coincidência, mais recentemente, o sucesso da série “A Casa de Papel”, cuja temática também gira em torno de um mega assalto, neste caso à casa da moeda espanhola.

Os assaltos às instituições desumanizam a vítima e somam alguma coisa de Robin Hood, de justiça social, à equação, para quem assiste de longe.

Mas de perto, no entanto, são só mais um exemplo da nossa crescente barbárie cotidiana.