PIVÔ Próximo de Bolsonaro, o secretário de Segurança do DF, Anderson Torres, mira o comando da PF (Crédito:Divulgação)

Ministro mais popular do governo, superando inclusive o próprio presidente, Sergio Moro tem enfrentado uma sucessão de percalços no governo e, principalmente, o fogo amigo vindo de Jair Bolsonaro, que teme seu protagonismo excessivo. A crise mais recente foi provocada pela proposta de divisão do ministério de Moro, que perderia a parte de Segurança Pública. Isso enfraqueceria o ministro, que ameaçou deixar o governo. Diante da repercussão negativa, o presidente recuou e afirmou na sexta-feira, 24, que “as chances de isso acontecer agora é zero”. Mas não descartou uma mudança no futuro. Voltou a atacar a imprensa para desviar a atenção das crises que provoca. Disse que “o tempo todo” querem dividir pastas do governo, mas que ele e Moro não “morderam a isca”.

Foi o próprio presidente que cogitou desmembrar o ministério, após participar de uma reunião com secretários estaduais de segurança. Estava nessa reunião Anderson Torres, secretário do Distrito Federal, que foi um dos pivôs da nova crise. Próximo do presidente, Torres foi cotado para assumir a chefia da PF no ano passado —que está sob a jurisdição do ministro. Na época, Moro não aceitou e bancou o atual diretor-geral, Maurício Valeixo. A intenção de recriar o Ministério da Segurança Pública também foi apoiada por um aliado do presidente, o ex-deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF), seu amigo há mais de 20 anos. Ex-coordenador da bancada da bala, Fraga declarou que “o Moro fica reclamando. Parece menino buchudo” e conversou com o presidente sobre o assunto. Pela proximidade dos dois, supõe-se que expresse a opinião do mandatário. Apesar do movimento ter sido abortado, ainda não foi eliminado. O deputado Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) afirmou que quer levar Moro e secretários estaduais para discutir o tema no Congresso.

ATAQUE O ex-deputado Alberto Fraga defendeu o desmembramento do ministério de Moro: “menino buchudo” (Crédito:Divulgação)

O último ataque foi disparado após a aparição de Moro no programa Roda Viva, da TV Cultura, que teria causado ciúmes no presidente — ele considerou que não foi suficientemente defendido pelo ministro, apesar de suas declarações de fidelidade ao mandatário. Até o momento, Moro conseguiu revidar as investidas presidenciais e, na crise mais recente, saiu vencedor. E buscou reforçar sua imagem. Participou na segunda-feira, 27, de outro programa, o Pânico, transmitido pela rádio Jovem Pan, e entrou no Instagram. Numa demonstração de prestígio, ganhou em 24 horas 600 mil seguidores, número que já cresceu 50% desde então. No Twitter, já é seguido por quase 2 milhões de pessoas. A estratégia não é apenas ganhar mais visibilidade. Depois da Lava Jato, a segurança pública se tornou a sua principal bandeira.

Moro exibe uma série de dados para corroborar o sucesso de sua gestão na área. Entre eles, a queda de 22% no número de homicídios dolosos, no índice de roubo a bancos (-36%) e de roubo de cargas nas rodovias federais (-40%). Também comemora a alta de 100% na arrecadação com a venda de bens de traficantes e na coleta de DNA para apontar a autoria de crimes (600%). Apesar de ser cuidadoso e compartilhar o mérito desses números com as secretarias estaduais e municipais, o ministro considera que está virando o jogo contra a violência ao enfrentar as organizações criminosas. Um pilar dessa estratégia foi a transferência da cúpula do PCC para presídios federais, inclusive do líder Marcos Willians Camacho, o Marcola, em ação coordenada com o governador de São Paulo, João Doria. Outra foi o enfrentamento das facções que dominam os presídios, como aconteceu ao enviar forças-tarefas ao Ceará e Pará. São resultados que compensam os reveses que sofreu no Congresso. A decisão do STF que livrou da prisão os condenados em segunda instância e a aprovação do novo juiz de garantias são as maiores provas de que Moro não pode contar apenas com sua influência natural para fortalecer a luta contra a corrupção, que é sua marca. A arena agora é política.

Supremo Tribunal Federal

Moro e Bolsonaro, que estava em viagem à Índia no ápice da última crise, não conversaram sobre o episódio. Nem mesmo trocaram mensagens. Se encontraram apenas na quarta-feira, 29. Na aparência, tudo está pacificado. Mas, no mesmo dia, Bolsonaro recebeu o diretor da Abin, Alexandre Ramagem, que também é cotado para assumir a PF. Novas batalhas são esperadas para os próximos meses. O fator determinante pode ser a indicação para a vaga a ser aberta no STF, em novembro. Moro declarou que “seria interessante” sua indicação ao posto, mas Bolsonaro hesita. Já insinuou que poderia indicar o atual advogado-geral da União, André Mendonça. Outro que corre por fora é o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira — tem a seu favor a proximidade com Bolsonaro, apesar da baixa estatura jurídica. É sabido que Bolsonaro demonstra paranoia com possíveis rivais e conspirações. Esse comportamento já provocou a demissão de auxiliares próximos e implodiu sua base de apoio. Se indicar Moro para o STF, poderá tirar de cena um fantasma para seus planos de reeleição. Mas Bolsonaro já demonstrou que age de maneira errática e imprevisível. Pode estar criando mais um problema para si mesmo ao incentivar o novo protagonismo de Moro.

ENDURECIMENTO A transferência para presídios federais dos líderes do PCC, como Marcos Willians Camacho, o Marcola, é um dos trunfos de Moro (Crédito:Divulgação)