19/02/2021 - 9:30
Aos poucos, o mundo se dá conta da revolução que a tecnologia 5G vai provocar, e não apenas nos celulares. Algumas experiências já mostram que o 5G será determinante para os avanços em múltiplas áreas, daí já ser apelidado de Revolução Industrial 4.0. Essa corrida é liderada pelas empresas que estão na linha de frente da implantação das redes, como a chinesa Huawei, a finlandesa Nokia e a sueca Ericsson, que disputam o monopólio da tecnologia em meio às tensões geopolíticas entre os EUA, a União Europeia e a China.
O foco já não está mais em conectar pessoas, mas equipamentos. É a trinfo da “tecnologia da coisas” (IoT, em inglês). “A chegada do 5G é comparável à descoberta da energia elétrica. É uma grandiosidade que ainda não conseguimos mapear por inteiro”, afirma Célio Hiratuka, professor livre-docente do Instituto de Economia da Unicamp e especialista em economia da Indústria e da Inovação.
O consumidor terá uma nova experiência nesse futuro cada vez mais próximo. Na indústria automobilística, gigantes como BMW, Honda e Nissan trabalham para o aperfeiçoamento do carro autônomo. No início de janeiro, a Microsoft despejou US$ 2 bilhões na Cruise, startup de veículos autônomos da GM, para participar do projeto na empresa americana. Como o 5G permite uma conexão até 40 vezes mais rápida do que o 4G, é possível confiar que os veículos respondam de forma quase imediata aos comandos externos. Com essa nova perspectiva, gigantes como a Tesla já veem seu valor de mercado decolar e superar as montadoras “analógicas”.
Na agricultura, tratores automatizados serão responsáveis pela colheita e drones inteligentes terão a capacidade de diagnosticar pragas. A companhia britânica RuralFisrt já utiliza microchips para receber atualizações diárias dos animais em suas fazendas. “Mais do que mudar o que já existe, o 5G cria situações inimagináveis até pouco tempo atrás”, diz.
Cirurgias a distância
Na indústria do entretenimento, a ultravelocidade de download possibilita que filmes sejam baixados em segundos. Em um teste realizado na cidade de Chicago, há dois anos, a americana Verizon baixou oito episódios de uma série em 38 segundos utilizando a conexão 5G. Ao repetir o teste em um celular com velocidade 4G, o mesmo procedimento demorou 1 hora e 16 minutos. Entre os gamers, a expectativa também é grande. O 5G possibilita que jogos possam ser executados nos celulares com a mesma qualidade exibida na TV. Além disso, vai facilitar a performance, diminuindo o que os gamers chamam de “lag”, que é a demora na resposta entre o ato de apertar o botão do controle e a ação do personagem.
Na saúde, as inovações englobam a utilização de inteligência artificial, intervenções a distância, realidade aumentada e telemedicina. Unidades móveis de atendimento, como ambulâncias, poderão se comunicar em tempo real com profissionais de saúde nos hospitais. A menor latência do 5G (o tempo entre o comando dado e a resposta do equipamento) finalmente dará segurança para a realização de operações remotas, que exigem precisão. Um especialista poderá realizar uma operação em um paciente que está do outro lado do mundo, por exemplo. Também a telemedicina, que disparou na pandemia, será intensificada, facilitando o acesso a avaliações médicas. “Há uma infinidade de possibilidades permitidas pelo 5G”, afirma Sidney Klajner, presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein.
Enquanto o 5G já é uma realidade em países como China, Inglaterra, Coréia do Sul e EUA, a tecnologia engatinha no Brasil. Aqui, as empresas de telefonia celular têm feito projetos-piloto para testar o 5G. Desde 2019, a TIM desenvolveu projetos em Campina Grande (PB) e Florianópolis (SC), com demonstrações de realidade virtual e compartilhamento de dados. Em dezembro do ano passado, a Claro firmou parceria com o governo de Goiás para instalar o 5G no município de Rio Verde. O projeto-piloto, com a instalação de duas torres e duração de um ano foi autorizado pela Anatel. O objetivo é testar a tecnologia e a inteligência artificial no agronegócio. Mas o uso comercial depende do futuro leilão das linhas de frequência, que a Anatel tem adiado desde o início do governo Bolsonaro. A expectativa é que o certame aconteça em junho. “Nesse ritmo, o Brasil ficará ainda mais defasado no que diz respeito à competitividade industrial”, lamenta Hiratuka.
Os benefícios do 5G
Velocidade
O sistema 5G promete velocidade de aproximadamente 10 Gb/s. Atualmente, o 4G tem capacidade teórica de 300 Mb/s. Com isso, o sistema 5G será aproximadamente 40 vezes
mais rápido
Latência
São os segundos de atraso em uma chamada de vídeo. Na rede 4G, a latência é de 50 milissegundos. O 5G deve praticamente acabar com o problema, reduzindo a latência para 1 milissegundo