O cérebro humano continua a representar um desafio para a ciência. A cada passo dado na pesquisa para desvendá-lo, surpresas aparecem, denunciando que o órgão é mais complexo do que se imagina. Na última semana, os responsáveis por um dos maiores estudos em andamento no mundo anunciaram mais uma dessas evidências. Nada menos do que 97 novas áreas foram identificadas no córtex, região onde são processadas funções como o raciocínio, a atenção, a concentração, a memória e a linguagem.

Com isso, subiu de 83 para 180 o total de pontos conhecidos em cada hemisfério (direito e esquerdo). Locais responsáveis pela interpretação do que se vê, pela audição e julgamento de histórias e outros, encarregados de desempenharem múltiplos trabalhos, vieram à luz. O novo mapa da arquitetura cerebral funcionará como bússola para garantir mais precisão às cirurgias, fornecendo aos médicos um panorama detalhado do terreno onde trabalharão.

Isso garantirá maior segurança ao proporcionar que os cirurgiões intervenham somente nas áreas doentes, reduzindo o risco de lesar estruturas saudáveis. “Até agora, muitas vezes não ficavam claros os limites de cada área”, explicou o cientista David Van Essen, da Universidade de Washington (EUA) e coordenador da pesquisa, que conta com a participação de outras seis instituições.

Na cartografia do cérebro conhecida até hoje, era como se pudessem ser vistos com clareza apenas planícies, vales, montanhas. Os limites e conexões entre esses diferentes relevos continuavam a ser em grande parte desconhecidos. O trabalho capitaneado por Van Essen desvenda essa rede, traçando um desenho claro das rotas por onde trafegam as informações entre as áreas.

COMO NA ASTRONOMIA

As informações contribuirão ainda para o melhor entendimento de doenças como o Alzheimer, esquizofrenia, autismo e demências. Essas são enfermidades cujas origens – ou pelo menos parte delas – estão relacionadas a disfunções no córtex, região que, apesar de conter apenas 20% dos neurônios, é palco de cerca de 150 trilhões de sinapses (zona de transmissão de dados entre um neurônio e outro).
O mapa usou imagens obtidas do cérebro de 210 voluntários saudáveis.

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Foram levantados dados de espessura, tamanho, atividade e conectividade de cada uma das áreas. O trabalho só pode ser feito graças a aparelhos cada vez mais sofisticados. “É possível fazer uma analogia com a astronomia”, disse Matthew Glasser, da Universidade de Washington. “Os telescópios baseados em terra forneciam imagens imprecisas dos planetas. Depois, com o surgimento dos telescópios espaciais, tivemos outro retrato do universo.” Agora, tem-se o mais claro retrato do cérebro humano da história.


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