Suzana Uchôa Itiberê Foto Divulgação Autor das aclamadas biografias Chatô ? O Rei do Brasil e Olga, o jornalista Fernando Morais volta-se para Cuba, tema de outro livro seu, A Ilha, para contar uma história real digna de romances de espionagem. Os Últimos Soldados da Guerra Fria (Cia. das Letras, 408 págs., R$ 42) desvenda as atividades de agentes secretos cubanos que se passavam por desertores para se infiltrar em organizações de extrema direita na Flórida. Em dois anos de pesquisa, Morais fez cerca de vinte viagens a Cuba e Estados Unidos, onde entrevistou tanto espiões cubanos presos quanto mercenários condenados por praticar ataques terroristas, como lançar bombas em hotéis de luxo na terra de Fidel Castro para afugentar turistas e agravar a crise econômica do país. Também teve acesso a incríveis documentos oficiais, alguns reproduzidos na íntegra. E como mestre da prosa que é, Morais criou uma narrativa envolvente que banha de humanidade seus personagens e evita julgamentos morais. Na entrevista, ele diz que o desafio de transformar a montanha de material em um livro vibrante deixou sua barba mais branca. Como entrou em contato com os personagens do livro? Primeiro falei com os familiares e, paralelamente, com os grupos de extrema direita em Miami, na Flórida. Comecei a me comunicar pela internet, pois como não sou cidadão americano e nem parente, não tinha o direito de fazer visitas. Às vezes, no dia em que os familiares falavam com eles ao telefone, pegava uma carona para dar uma conversada. Que tipo de informação foi mais difícil de obter? Do lado cubano, três coisas. Relutaram muito em liberar o dossiê sobre terrorismo que o Fidel mandou para Bill Clinton. Outra foi a cópia do informe que o Gabriel García Márquez escreveu para o Fidel, contando como havia se desincumbido na missão de intermediar a correspondência com Clinton. E a terceira foi a autorização para entrevistar o ?Stallone?, que estava no corredor da morte. Do lado americano, houve uma desconfiança muito grande do pessoal da extrema direita em relação a mim. O serviço de segurança americano se mostra o elo mais frágil dessa realidade. E faz pensar no 11 de setembro. Tem uma coisa que me chamou muito a atenção e não coloquei no livro porque é uma reportagem e não uma obra analítica. No último parágrafo do informe que envia para Clinton, Fidel diz que ?aleniência das autoridades americanas com essa desenvoltura de terrorismo na Flórida, se hoje representa um perigo para Cuba, de uma hora para outra pode representar um perigo para os Estados Unidos?. Isso foi escrito em 1998. Três anos depois, a Al-Qaeda fez o que fez em Nova York. Onde os caras de Osama bin Laden aprenderam a pilotar? Na Flórida. Hoje o rigor é maior, mas ainda é possível pessoa consegue comprar um fuzil pela internet, por US$ 300. Como foi ordenar aquele montante de informação e transformar em livro? Por que acha que estou com a barba branca? Sofrimento (risos). Como jornalista, estamos acostumados a fazer pesquisa, entrevistas, fuçar arquivos. O duro é na hora de juntar a cordilheira de papel e depoimentos, pegar toda a informação, fazer caber em um livro que não pode ter 2 mil páginas e ainda criar uma narrativa que seja minimamente saborosa. Daria um ótimo filme de espionagem. Já vendeu os direitos? Sim, e se não tivesse vendido é bem capaz que o livro não existisse. É uma obra de produção muito cara, que demanda viagens, passagens de avião, hotel, táxi, restaurante e tudo o mais. Consegui um investidor do cinema que me adiantou a grana e com ela realizei o projeto. O livro já nasceu com um pé no cinema. Siga Gente no Twitter!