Dimas sempre foi conhecido por ser um sujeito muito articulado.

– Dimas é o cara! Dizia um amigo.

– Dimas entende como é o mundo! Dizia outro.

Sem nenhuma formação específica, Dimas era um sujeito sensível, fazer o que? Sabia para onde caminhava a sociedade Sua perspicácia começou a ser notada quando começaram a falar em impeachment para a presidente Dilma. No bar, entre os amigos, Dimas alertou.

– Ô loco.

– O que, Dimas?

– Impeachment.

– Que que tem o impeachment?

– Vixi.

Os amigos perceberam de imediato a profundidade quase metafísica do comentário. Não deu outra, o país parou.
Durante quase dois anos, o Brasil foi desligado da tomada, mais de 13 milhões de desempregados depois, veio a Campanha Eleitoral, mas Bolsonaro apareceu. Os amigos do Dimas riram do candidato. Uma piada um sujeito desse querer se eleger, não é mesmo, Dimas? Dimas não riu. Ao invés disso, meditou:

– Ave Maria…

– Que foi, Dimas?

– Bolsonaro.

– Bolsonaro o que?

– Vixi.

Os amigos pararam imediatamente de rir. Dimas, mais uma vez, tinha razão. Durante os últimos dois anos, Dimas analisou o país como poucos.

Moro, ministro? Vixi.

Posto Ipiranga? Vixi.

Floresta Amazônica? Damares? Astronauta? Secretaria da Cultura? Ministro da Educação? Vixi.

Não teve uma manchete de jornal que o Dimas não tivesse previsto. Aos poucos, Dimas foi virando uma celebridade.

Finalmente alguém nesse país falava coisa com coisa. Alguém que entendia o momento, a política, a economia.

Começou conquistando a confiança de seus amigos.

Aí veio o Twitter, o Facebook, o Instagram e milhares de seguidores ávidos por suas análises. Dimas lacrava, diziam todos.

Virou fonte, que é quando a imprensa procura sua opinião, de tão confiável que é, bastava uma medida qualquer ser decidida em Brasília, e todos perguntavam o que Dimas tinha a dizer.

“Vixi”, ele respondia sem papas na língua.

O dólar subiu, as ações caíram, o Trump falou bobagem, Dimas era sempre a pessoa a ser procurada, porque sua análise da situação era sempre a mais precisa.

“Vixi” virou camiseta, boné e bandeira.

Com o tempo, o inevitável aconteceu. Foi chamado ao Palácio do Planalto, pelo presidente. Dimas foi.

O presidente o recebeu com empolgação. Depois das primeiras trivialidades, o mandatário foi direto ao ponto:

– Sabe o que é, Dimas….a presidência é uma função muito solitária? Sou só eu aqui, liderando o país, do alto do meu castelo, tá oquei?

– Ô loco.

– Por isso procuro me cercar de gente competente, gente que sabe das coisas, entende?

– Opa!

– Na semana passada, um grande conselheiro meu, um filósofo, que mora fora do Brasil, resolveu deixar o governo. Então eu gostaria de fazer um convite a você, para integrar meu governo e assumir o Ministério do Conselho, que pretendo criar.

– Vixi! Dimas, é claro, aceitou lisonjeado.

Os amigos já esperavam que, mais dia menos dia, o talento de Dimas fosse colocado a serviço da Nação.

Na semana passada o presidente entrou na sala do Ministro Dimas:

– Dimas, esses casos de covid estão explodindo!

– Eita!

– Estava pensando em não divulgar mais os números. O que você acha?

Dimas pensou, coçou o queixo, olhou pela janela e concluiu:

– Vixi!

O presidente ficou alguns segundos olhando para Dimas, pensando em como tinha acertado em mais aquele ministro.

É disso que esse governo precisa, afinal.

Gente que venha para somar.

Só há aventureiros no governo, agora saíram o astrólogo e o conselheiro