12/06/2020 - 9:30
Dimas sempre foi conhecido por ser um sujeito muito articulado.
– Dimas é o cara! Dizia um amigo.
– Dimas entende como é o mundo! Dizia outro.
Sem nenhuma formação específica, Dimas era um sujeito sensível, fazer o que? Sabia para onde caminhava a sociedade Sua perspicácia começou a ser notada quando começaram a falar em impeachment para a presidente Dilma. No bar, entre os amigos, Dimas alertou.
– Ô loco.
– O que, Dimas?
– Impeachment.
– Que que tem o impeachment?
– Vixi.
Os amigos perceberam de imediato a profundidade quase metafísica do comentário. Não deu outra, o país parou.
Durante quase dois anos, o Brasil foi desligado da tomada, mais de 13 milhões de desempregados depois, veio a Campanha Eleitoral, mas Bolsonaro apareceu. Os amigos do Dimas riram do candidato. Uma piada um sujeito desse querer se eleger, não é mesmo, Dimas? Dimas não riu. Ao invés disso, meditou:
– Ave Maria…
– Que foi, Dimas?
– Bolsonaro.
– Bolsonaro o que?
– Vixi.
Os amigos pararam imediatamente de rir. Dimas, mais uma vez, tinha razão. Durante os últimos dois anos, Dimas analisou o país como poucos.
Moro, ministro? Vixi.
Posto Ipiranga? Vixi.
Floresta Amazônica? Damares? Astronauta? Secretaria da Cultura? Ministro da Educação? Vixi.
Não teve uma manchete de jornal que o Dimas não tivesse previsto. Aos poucos, Dimas foi virando uma celebridade.
Finalmente alguém nesse país falava coisa com coisa. Alguém que entendia o momento, a política, a economia.
Começou conquistando a confiança de seus amigos.
Aí veio o Twitter, o Facebook, o Instagram e milhares de seguidores ávidos por suas análises. Dimas lacrava, diziam todos.
Virou fonte, que é quando a imprensa procura sua opinião, de tão confiável que é, bastava uma medida qualquer ser decidida em Brasília, e todos perguntavam o que Dimas tinha a dizer.
“Vixi”, ele respondia sem papas na língua.
O dólar subiu, as ações caíram, o Trump falou bobagem, Dimas era sempre a pessoa a ser procurada, porque sua análise da situação era sempre a mais precisa.
“Vixi” virou camiseta, boné e bandeira.
Com o tempo, o inevitável aconteceu. Foi chamado ao Palácio do Planalto, pelo presidente. Dimas foi.
O presidente o recebeu com empolgação. Depois das primeiras trivialidades, o mandatário foi direto ao ponto:
– Sabe o que é, Dimas….a presidência é uma função muito solitária? Sou só eu aqui, liderando o país, do alto do meu castelo, tá oquei?
– Ô loco.
– Por isso procuro me cercar de gente competente, gente que sabe das coisas, entende?
– Opa!
– Na semana passada, um grande conselheiro meu, um filósofo, que mora fora do Brasil, resolveu deixar o governo. Então eu gostaria de fazer um convite a você, para integrar meu governo e assumir o Ministério do Conselho, que pretendo criar.
– Vixi! Dimas, é claro, aceitou lisonjeado.
Os amigos já esperavam que, mais dia menos dia, o talento de Dimas fosse colocado a serviço da Nação.
Na semana passada o presidente entrou na sala do Ministro Dimas:
– Dimas, esses casos de covid estão explodindo!
– Eita!
– Estava pensando em não divulgar mais os números. O que você acha?
Dimas pensou, coçou o queixo, olhou pela janela e concluiu:
– Vixi!
O presidente ficou alguns segundos olhando para Dimas, pensando em como tinha acertado em mais aquele ministro.
É disso que esse governo precisa, afinal.
Gente que venha para somar.
Só há aventureiros no governo, agora saíram o astrólogo e o conselheiro