Desde que Lula assumiu, o Banco Central tem sido uma pedra no seu sapato. Ele quer que os juros caiam, esbraveja e até xinga o presidente da instituição, mas a taxa Selic permanece estacionada nos 13,75%. É que o BC agora é independente e os diretores do órgão têm mandatos e não podem ser removidos. O presidente Roberto Campos Neto, por exemplo, só vai sair em dezembro de 2024. Os mandatos de dois diretores, no entanto, vencem agora e Lula já indicou os nomes para as vagas: Gabriel Galípolo e Ailton de Aquino Santos. Mas duas andorinhas não fazem verão. São nove diretores. Ou seja, mesmo que os dois lulistas votem pela baixa de juros, as taxas deverão continuar no mesmo patamar até o final do ano, porque a inflação continua a exigir que a Selic se mantenha alta.

Minoria

Em dezembro, outros dois diretores serão substituídos por Lula, mas ele continuará minoritário: 4 a 5. Domínio completo do BC só se dará mesmo em 2024. Galípolo, contudo, pode usar sua cadeira na instituição para defender a redução dos juros e ser uma voz distoante, mas pouco poderá fazer, pois, tecnicamente, o quadro é de arrocho monetário.

Presidente

Embora ainda precise ser aprovado pelo Senado, está claro, porém, que Galípolo está sendo posto no BC para presidir o banco quando o atual presidente deixar o cargo. Os dois não são rivais. Pelo contrário, se dão bem. Eles são técnicos e sabem muito bem que os juros estão num nível elevado e que só vão cair se o arcabouço fiscal for aprovado.

Fogo amigo

Dilma Rousseff, a verdadeira autora da obra (Crédito: Omar de Oliveira)

Lula mandou remover as grades que cercam o Palácio do Planalto. O petista aproveitou a ocasião e centrou críticas no ex-presidente Michel Temer, que acreditava ser o responsável pela instalação das estruturas, mas acertou na aliada Dilma Rousseff – a verdadeira autora da obra. As proteções foram instaladas pela ex-presidente ainda em 2013, em meio à onda de protestos na Esplanada dos Ministérios.

Retrato falado

Presidente da Suzano, Walter Schalka: “Possíveis retrocessos do governo são ameaça a investimentos” (Crédito:Silvia Costanti)

O presidente da Suzano, Walter Schalka, disse ao Valor que os empresários estão preocupados com retrocessos que o governo está impondo nas reformas e nas regras do jogo nas áreas de energia, saneamento e gestão marcroeconômica. “Não podemos viver no passado, revendo o que foi feito na Eletrobras, no saneamento ou no BC”, disse Schalka, que acaba de ser homenageado com o título de personalidade do ano, concedido pela Brazilian-American Chamber of Commerce, em Nova York.

Barganha

Lula dá continuidade ao novo fisiologismo no Congresso. No passado, para ter maioria no Legislativo, os governos atraíam deputados e senadores oferecendo-lhes ministérios e cargos no segundo e terceiro escalão. Mas, com o Orçamento Secreto, escancarado por Bolsonaro, a relação mudou. Os parlamentares não querem apenas cargos na Esplanada. Preferem emendas. Com elas, realizam grandes obras nos seus municípios, dão mordidas nas empreiteiras que as realizam, ficam bem na fita com seus eleitores e se reelegem. Apesar de o STF ter acabado com as emendas de relator, Lula mantém o esquema de liberar emendas aos políticos para eles votarem a favor do governo.

Emendas bilionárias

Após as derrotas como a do saneamento, e precisando de votos para aprovar o arcabouço fiscal, Lula liberou R$ 1,3 bilhão em emendas na semana passada e os deputados querem mais. São insaciáveis. E vai ser assim a cada votação importante no Congresso. Pegaram gosto. É o novo toma lá dá cá. Dane-se o Brasil.

“Meu boy”

A primeira-dama Janja da Silva vem criando embaraços até para o presidente. Em recente viagem ao Ceará ao lado do ministro Camilo Santana, ela tomou o microfone e repreendeu Lula, a quem chamou de “meu queridinho
e meu boy”, para dizer que faltavam mulheres na foto sobre o evento na área da Educação, como Izolda Cela. Houve certo mal-estar.

Janja Lula da Silva (Crédito: Ricardo Stuckert)

Influência no GSI

A PF dá como certo que a coordenação da segurança de Lula e de Alckmin será sua, mas o novo comandante do GSI, general Marcos Amaro, disse que a pasta não abrirá mão dessa função. Na disputa entre as duas forças, Janja tem se posicionado a favor do GSI, trabalhando para que a Secretaria Extraordinária de Segurança Imediata não seja extinta.

A adesão a Lula

Presidente Lula e o deputado Yury do Paredão (Crédito: Divulgação)

Parlamentares nordestinos da bancada do PL já começam a debandar para o lado do PT. Na semana passada, o deputado Yury do Paredão (CE) posou para foto apertando as mãos de Lula, o que irritou os bolsonaristas do partido. O clique polêmico foi compartilhado no próprio perfil do Instagram do congressista em visita do presidente a Juazeiro do Norte, seu reduto eleitoral.

Toma lá dá cá

Fabiano Contarato (ES), líder do PT no Senado (Crédito: Divulgação) (Crédito:Divulgação)

Há risco de que o arcabouço fiscal não passe no Congresso?
O arcabouço representa um avanço na implementação de políticas públicas com responsabilidade e será aprovado com expressiva votação.

Líderes da oposição dizem que o governo está sem base no Congresso. Essa informação procede?
Não vejo dessa forma. Como é natural no início do Governo, o presidente tem gradativamente aperfeiçoado e estreitado o diálogo com o Congresso.

O governo tem como evitar que a CPMI do 8 de Janeiro vire um palanque bolsonarista?
O apoio da base nos proporcionou ter maioria de membros na Comissão, o que nos permitirá
ter tranquilidade para conduzir as investigações de maneira séria, sem espaço para
delírios bolsonaristas.

Rápidas

* O ex-presidente do Senado Davi Alcolumbre (União-AP) teve a conta do WhatsApp hackeada por golpistas, que estão usando o perfil do senador para pedir transferências de valores pelo PIX. Outros seis senadores podem ter sido vítimas da mesma prática criminosa.

* O Itamaraty continua tirando velhos embaixadores do ostracismo a que foram submetidos por Jair Bolsonaro. Antonio Patriota assumirá a Embaixada de Londres, no lugar de Fred Arruda, que vai para a Austrália.

* Lira está em guerra com as big techs desde que elas ficaram contra o PL das Fake News, do qual é a favor. Após o Telegram criticar a proposta, determinou a exclusão de todos seus canais de comunicação vinculados à plataforma.

* A inflação medida pelo IPCA foi de 0,61% em abril, abaixo dos 0,71% de março, mas acima dos 0,55% projetados pelo mercado. O Banco Itaú fala que a flexibilização monetária só acontecerá em outubro ou novembro.

 

Colaboraram Marcos Strecker Victor Fuzeira