O novo álbum de Marisa Monte, “Portas”, não recebeu esse título apenas por dar nome a uma de suas melhores canções, bela parceria com Arnaldo Antunes, seu colega dos Tribalistas, e Dadi Carvalho, dos Novos Baianos. A cantora usa a metáfora para citar a importância de abrir caminhos para que a luz possa entrar e iluminar os tempos sombrios que vivemos. Sobre a importância das portas, ela canta: “Todas dão em algum lugar / E não tem que ser uma única / Todas servem para sair ou para entrar / É melhor abrir para ventilar esse corredor”. Ela explica de onde veio a ideia: “No começo de 2020, meu plano era entrar em estúdio em maio. Eu já tinha um repertório pronto, produzido ao longo dos últimos anos com diversos parceiros, esperando a hora certa de gravar. Mas, em março, as portas se fecharam e ficou impossível seguir com os planos”, conta Marisa.

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O álbum foi gravado durante a pandemia sob rígidos protocolos de segurança, que envolveram sessões de composição ao ar livre e parceiros mascarados. Foi assim com Marcelo Camelo, do Los Hermanos, que colaborou nas faixas “Espaçonave”, “Sal” e “Você Não Liga”. Houve também sessões de videoconferência pelo aplicativo Zoom com o produtor Arto Lindsay – ele em Nova York, ela no Rio de Janeiro, cada um tocando com um grupo diferente de músicos. “Foi um grande desafio, reinventar métodos de produção e abrir novos caminhos e experimentar num momento tão duro e de tantas incertezas, mas a gente enfrentou as dificuldades com criatividade e o cuidado necessário. O álbum ficou pronto entre fevereiro e março”, explica Marisa no texto que acompanha o lançamento.

Mesmo com todas essas novidades no processo de criação, “Portas” traz Marisa Monte em sua essência, a mesma artista que ganhou o público com sucessos como “Mais”, em 1990, “Verde, Anil, Amarelo, Cor-de-Rosa e Carvão”, de 1994, e “O que Você Quer Saber da Verdade”, o mais recente lançamento de estúdio, de 2011. São canções leves e belas, com muito violão e percussão. Em letras ingênuas e românticas, a voz de Marisa desliza pelas melodias de forma suave, um sopro que, pouco a pouco, abre cada porta/canção até encher o ambiente inteiro de sol.

Capa do álbum “Portas” (Crédito:Divulgação)

A cantora não lançava nada autoral há dez anos, embora tenha feito uma turnê com Paulinho da Viola e gravado com os Tribalistas nesse período. Dizer que o álbum é autoral não quer dizer que Marisa tenha escrito tudo, pelo contrário. Todas as canções trazem parcerias: “Calma”, o primeiro single, e “Déjà Vu” trazem assinatura de outro colega de Tribalistas, Carlinhos Brown; “A Língua dos Animais”, além de “Portas”, tem Arnaldo Antunes e Dadi Carvalho; “Quanto Tempo” é colaboração com o compositor Pretinho da Serrinha e Pedro Baby, filho de Baby Consuelo – Pretinho é coautor também de “Elegante Amanhecer”. “Medo do Perigo”, “Em Qualquer Tom” e “Fazendo Cena” trazem o talentoso Chico Brown, filho de Carlinhos Brown; “Praia Vermelha” tem o coautor Nando Reis; “Totalmente Seu” é parceria com o cantor Silva; “Pra Melhorar”, que fecha o disco, traz Seu Jorge e sua filha, Flor.

Em relação aos shows de divulgação do disco, Marisa é menos otimista. “Não temos uma data certa para voltar aos palcos. Ainda está difícil fazer planos. Dependemos da vacina e da maioria da população imunizada. Talvez no final do ano, se tudo der certo em 2022, a gente vai ter a alegria de se encontrar de novo. Comecei minha vida na música com 19 anos e nunca fiquei tanto tempo sem cantar ao vivo e sem encontrar o meu público. Estou sentindo muita falta, não vejo a hora de poder cantar junto.” Nós também, Marisa.