O ano de 2020 é repleto de simbolismos para a cantora Bebel Gilberto. Há exatos 40 anos ela estreava na carreira artística, cantando “Chega de Saudade” ao lado do pai, João Gilberto, na TV. E há duas décadas se lançava em uma carreira internacional com o bem sucedido “Tanto Tempo”, álbum que vendeu quase três milhões de cópias e inovou ao apresentar uma mistura da bossa nova tradicional com ritmos eletrônicos. Tudo isso leva à ao novo disco, “Agora”. Bebel está ainda mais eletrônica, mas sem cair na pista de dança. Graças à produção de Thomas Bartlett, responsável pelo som de nomes como Florence + The Machine e Norah Jones, “Agora” é etéreo, sexy, espécie de trilha sonora para um filme que não existe. “Esse novo estilo não foi pensado, ele simplesmente fluiu”, afirma Bebel. “Essa textura vem da mistura do eletrônico a instrumentos analógicos.” Lançado pela gravadora belga [PIAS], o resultado é um som original e hipnótico, aquele clima misterioso das músicas-tema de James Bond. É cantado em português, mas há canções em inglês e espanhol. “Thomas queria que eu cantasse em português, mas deixamos os improvisos em inglês”. O destaque, entre as letras confessionais, vai para a parceria com Mart’nália, “Na Cara”: “Por que não fala na cara/ Por que não diz o que pensa? / Se nunca pensa o que fala / Para que viver de mentira?” Após 30 anos em Nova York, Bebel voltou ao Rio de Janeiro: está aqui e agora.

A herança de João Gilberto

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A novela sobre a herança musical do compositor ainda está longe de acabar, mas pelo menos há uma luz no fim do túnel desde que o Ministério Público indicou a advogada Silvia Gandelman para ser inventariante. A briga pelos direitos do artista, morto há um ano, separa os três filhos em litígio, João Marcelo, Bebel Gilberto e Luisa Carolina, cada um de uma mãe diferente. Silvia está fazendo um levantamento das receitas, mas também da dívida deixada pelo pai da bossa nova. A advogada propõe à família a criação de um centro para preservar a memória do artista. Ela já conseguiu promover o acordo entre os herdeiros de Herivelto Martins e Dalva de Oliveira. “Meu papel é levantar o que existe, pagar as dívidas e dividir o legado”, afirma.