O fato mais importante na nomeação de Carlos Decotelli como novo ministro da educação é o facto de ele ser negro.

Não importa se ele é de esquerda, de direita ou se deixou seu doutorado abandonado na boêmia dos sebos da calle Corrientes em Buenos Aires. Denunciar que o novo ministro foi “reprovado no exame de qualificação pela banca de doutorado” é terrorismo académico. Vai confiar no que fala um reitor Argentino?

Carlos é negro e isso é bom. Não que a cor da sua pele tenha alguma coisa que ver com a sua competência em matérias de educação — ele é um gestor de empresas — ou seja relevante para a definição ideológica do ministério mais importante do Brasil — onde provavelmente tudo vai continuar como dantes.

Mas logo depois do episódio Floyd, colocar um negro como ministro da educação é uma notícia que o Brasil devia exponenciar internacionalmente. Porque isso é bom.Quando todo o mundo está querendo rebentar as estátuas do passado e o governo apresenta uma solução inteligente e com alcance internacional, isso é bom.

Um negro como ministro da educação num governo de direita é uma cartada de mestre, mas a pauta escolhida para a apresentação de Carlos é má.

Má porque ninguém está olhando para o que essa escolha significa para além da política rasa que escorre na espuma dos dias na praça dos três poderes. Má porque ela desfoca o simbolismo extraordinário que representa colocar um negro como ministro da educação do último país da América a abolir a escravatura.

Deixar Carlos Dacotelli na fritura do seu currículo — como é que nos dias de hoje ainda tem gente capaz de mentir nas habilitações é mesmo um mistério — é mau para o Brasil.

Num país onde todos os filhos do presidente têm pendências com a justiça e o presidente também. Num país onde assessoras e assessores do Planalto são presos por atacar órgãos de soberania. Num país onde o poder executivo ataca o judicial nas telas da TV, onde políticos fingem ser médicos e generais querem políticos.

Num país onde os leilões e pregões de equipamentos de proteção médica atrasam a chegada de máscaras e testes à população. Num país que morre de COVID-19 porque a corrupção generalizada impede os estados de cumprir o seu papel. Num país onde a lei e ordem se sentam na mesma mesa com as milícias.

Num país onde o anterior ministro da educação toma posse como um fugitivo numa instituição internacional, a notícia de que o seu sucessor é negro é um furo. É a única boa notícia do último ano. Mesmo que seja o 11º primeiro militar do governo!

Por favor não estraguem!