Um descuido do ex-senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) acabou revelando os bastidores de uma decisão judicial do ministro Gilmar Mendes, do STF, em favor de investigados da Lava Jato. Um deles é o próprio ex-ministro das Relações Exteriores. Durante as buscas na casa dele, ocorridas na 60a fase da operação, os policiais encontraram no celular do tucano mensagens bastante comprometedoras. Uma delas é entre Aloysio e o então ministro da Defesa, Raul Jungmann, na qual ele elogia a atuação de Gilmar Mendes na concessão de habeas corpus a Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, operador do PSDB em esquemas fraudulentos. “O nosso causídico é foda”, disse Aloysio a Jungmann. Mas os afagos a Gilmar são feitos também em conversas entre o tucano e o advogado José Roberto Figueiredo Santoro, que defende Paulo Preto, condenado nesta quarta-feira 6, a 145 anos de prisão.

SALVO CONDUTO Aloysio se empenhou junto a Gilmar Mendes para que Paulo Preto (abaixo), caixa dois do PSDB, ficasse em liberdade (Crédito:DIANA SANCHEZ)

Em conversa de 11 de fevereiro, Nunes confirmou a Santoro que havia tratado do habeas corpus com o ministro do STF. Num trecho, o advogado pergunta: “Caríssimo, você falou com nosso amigo?”. Ao que Nunes responde: “Falei”. No mesmo dia, o aparelho de Aloysio Nunes registra que ele fez ligações e recebeu telefonemas do gabinete de Gilmar Mendes.
Segundo o MPF, no dia 13 de fevereiro, ou seja, dois dias depois, Santoro informou ao ex-senador por mensagem de celular que “o ministro Gilmar Mendes deferiu o habeas corpus no 167727, em que figurava como interessado Paulo Vieira de Souza, afilhado político de Aloysio Nunes Ferreira Filho”. Diante dos indícios, os procuradores da Lava Jato pediram à procuradora-geral da República, Raquel Dodge, que ela peça ao Supremo o afastamento de Gilmar Mendes dos casos envolvendo o ex-senador Aloysio Nunes (PSDB) e Paulo Vieira de Souza.

ROBSON FERNANDJES

CPI da Lava Toga

Se era a ausência de um fato concreto que impedia a instalação de CPI para investigar a atuação de magistrados em sentenças suspeitas, que ficou conhecida como a “CPI da Lava Toga”, agora os senadores não têm mais justificativa para procrastinar a apuração. É que a CPI estava pronta para ser formada quando três senadores acabaram retirando as assinaturas alegando que não havia indícios de irregularidade suficientes para a sua criação. O requerimento era de autoria do senador Delegado Alessandro Vieira (PPS-SE) e contava com o número mínimo de 27 senadores signatários, mas acabou reduzido a 24, depois que os três senadores retiraram as assinaturas, inviabilizando a CPI.