O couro dos vaqueiros, a madeira dos artesãos e o cordel dos poetas se misturam para contar a história do Cariri, no sul do Ceará. Incrustada entre o sertão e as serras do Nordeste brasileiro, a região é conhecida pela cultura e pelos inúmeros mestres do artesanato que transformam qualquer matéria prima em arte. Em abril, entre os dias 4 e 9, toda essa brasilidade será levada ao Salão Internacional do Móvel, em Milão, na Itália. A curadora do projeto e responsável pela criação do espaço onde serão expostas as peças, a arquiteta cearense Ana Virgínia Furlani, passou, ao lado do designer Pedro Franco, diretor da Lot of Brasil, marca que desenvolve os produtos, semanas de imersão no Cariri para captar a atmosfera local e imprimir o estilo às cadeiras e outros móveis que serão apresentados ao mundo durante o evento. “Visitamos diversas oficinas de artesanato para chegar a essa inspiração”, diz. “Em um mundo tão acelerado, em que países como a China investem na produção em série, as pessoas vão enxergar a beleza e a poesia do trabalho artesanal”, diz Ana Virginia.

Brasilidade  Pedro Franco segura cadeira da coleção Cariri, que utiliza a madeira tauari, utilizada por artesãos brasileiros
Brasilidade Pedro Franco segura cadeira da coleção Cariri, que utiliza a madeira tauari, utilizada por artesãos brasileiros

CULTURA EM CADA PEÇA

As cadeiras, mesas e sofás são assinados por designers brasileiros e estrangeiros. A linha Cariri, por exemplo, do italiano Andrea Borgogni, é composta por poltronas e mesas desenvolvidas com a madeira tauari, típica do País e utilizada por artesãos da região para esculpir estátuas religiosas. “Queremos levar valores locais que interessam ao mundo”, diz Franco. “O público nunca valorizou tanto a alma de um produto.” A partir do convívio com os mestres regionais, o design de outros móveis também foi pensado de forma criativa. A coleção Bamboo, de Alessandra Baldereschi, foi desenvolvida com fios de arame e tubos. “É uma estética inspirada nas cadeiras do interior do sertão, onde as pessoas têm o hábito de se reunir na calçada de casa para conversar”, afirma Ana Virgínia. Na mesma linha, o designer brasileiro Thiago Lutz criou a coleção de poltronas que leva o nome de Sertão. Para a confecção, foi utilizado o tear também para retratar um costume local. Além disso, Franco desenvolveu em couro o sofá Kaos, muito utilizado em todo o Nordeste, em função da herança dos vaqueiros.

Costume Peças das coleções Bamboo, Sertão e Estrella resgatam o tradicional hábito nordestino: reunir cadeiras nas calçadas para conversar
Costume Peças das coleções Bamboo, Sertão e Estrella resgatam o tradicional hábito nordestino: reunir cadeiras nas calçadas para conversa

Cariri ficou mundialmente conhecida também pela atuação do carismático padre Cícero, que, além de ser admirado e seguido por uma legião de fieis, incentivou a criação de oficinas de artesanato em toda a região metropolitana do Ceará. Assim nasceram as inúmeras manifestações culturais na pequena cidade. Hoje, essa atmosfera será reproduzida e apresentada a públicos de diversos países. O espaço de 60 metros quadrados será decorado com cenas da região e elementos tradicionais, e a história da coleção, contada por meio da literatura de cordel. “Há um retorno ao tempo lento e à valorização do artesanal. E levar um pouco do Cariri ao mundo é a melhor forma de incentivar essa tendência”, diz Franco. A coleção chega ao Brasil em maio.


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