Deve-se debitar na conta de Pedro Parente, atual presidente da Petrobras, o prejuízo bilionário causado ao País pelos transtornos provocados pela greve dos caminhoneiros. Fábricas paradas, trabalhadores sem transporte, agricultores que perderam a produção, comerciantes sem reposição de estoques… tudo isso é decorrência da política de preços implantada por Parente na estatal, que decidiu tratar um insumo básico da economia, a energia, como uma mercadoria qualquer. Ao reajustar os preços diariamente, com base na cotação internacional da barril e do dólar, Parente implantou no Brasil um modelo que não é adotado em quase nenhum dos grandes países produtores de petróleo.

Com essa política, Parente encareceu brutalmente os custos das próprias refinarias da Petrobras, que hoje operam com 40% de ociosidade. O resultado é desastroso. Com uma produção interna menor de derivados, dispararam as importações de gasolina e óleo diesel, que vêm sobretudo dos Estados Unidos. Portanto, o Brasil hoje exporta o óleo cru, importa derivados, que têm maior valor agregado, e sucateia suas próprias refinarias — ativos que Parente pretende privatizar, vendendo-os a “parceiros estratégicos da Petrobras”.

Na prática, Parente já vem privatizando a estatal aos pedaços. Sem nenhuma transparência, cedeu grandes blocos do pré-sal a petroleiras internacionais, incluindo estatais de outros países, vendeu gasodutos e tenta agora leiloar as refinarias — o que poderá, em breve, aprofundar ainda mais a crise de abastecimento de combustíveis, uma vez que os petroleiros já preparam a maior greve da história da companhia.

Para conter o caos no País, a saída óbvia seria demitir sumariamente Parente. No entanto, Michel Temer não tomou esta decisão porque Parente é a coluna vertebral do golpe de 2016. O principal motivo para que a presidente Dilma Rousseff fosse deposta, sem qualquer indício de crime de responsabilidade, era o assalto ao pré-sal — a maior descoberta de petróleo ocorrida no mundo nos últimos 50 anos. Para consolidar este roubo do século, no entanto, não bastava apenas entregar blocos a companhias internacionais, leiloar reservas e acabar com o modelo de partilha, que teria recursos investidos em educação. Era necessário desmontar o modelo integrado da Petrobras, que nasceu e recebeu bilhões em recursos do povo brasileiro para garantir o abastecimento do mercado nacional — e não para funcionar como um ponto de comercialização de petróleo a preços de mercado.

Com sua política irresponsável de preços, ele causou prejuízos bilionários a vários setores da economia

Era óbvio que tinha tudo para dar errado, como efetivamente aconteceu. Com a greve dos caminhoneiros, os brasileiros começam a descobrir os motivos e as consequências do golpe: um assalto ao petróleo, com a conta paga pela sociedade brasileira. Na semana passada, o copo transbordou.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias