Do pós de arroz, cascas de bananas, xingamentos e os mais diversos achincalhamentos nos gramados, arquibancadas e redes sociais do Brasil e do mundo, o esportista negro brasileiro sempre foi guiado por alta capacidade de resiliência, perdão e grandiosidade de alma e espírito esportivo. Os negros só pisaram na Olimpíada, na sua terceira edição, em Saint Louis, em 1904, e foram obrigados a correr descalços e vestindo chapéus, enquanto eram ridicularizados pela plateia com pilhéria e gargalhadas de desprezo.

Ao longo dessa trajetória, confirmando a crueza do racismo e contrariando os argumentos de racistas, esportistas negros, ricos ou pobres, famosos ou anônimos, além de continuarem sendo violentados na sua identidade, nos mais das vezes precisam sofrer calados. Denunciar ou exigir responsabilização dos seus algozes, no mais das vezes, pode significar a acusação de se fazer de vitima e a pecha de mimimi. Além da punição com a indiferença e o ostracismo, a marca indelével e excludente do mal vindo; daquele problemático que vê racismo em tudo.

Só portando as elevadas qualidades dos grandes, para seguir o caminho contra tudo e contra todos. Contra o racismo das sociedades que não enxergavam e não reconheciam seus talentos e capacidades, e mesmo, contra o racismo produzido até pela ciência esportiva que, dissimuladamente, apontava que os negros não tinham a capacidade para prática de esportes que exigiam alta capacidade de inteligência e concentração. Seus ossos seriam pesados demais e a formatura de seus corpos inadequados para a natação, por exemplo. Mas as medalhas olímpicas de corredores negros como John Taylor, em 1908, Jesse Owens, Ademar Ferreira Silva, Carl Lewis, Usain Bolt, Robson Caetano, confirmaram sim, a potência dos negros nas pistas, enquanto, Antony Nesty e Simone Emanuel e Edvaldo Valério, nas piscinas, e, Daiane dos Santos, Simone Biles e Rebecca Andrade nas balizas da ginástica, dentre outros, confirmaram o que sempre se soube: a capacidade normal e regular dos negros para todos os esportes.

A ciência esportiva apontava que os negros não tinham a capacidade para a prática de esportes que exigiam inteligência e concentração

A garra, a fé, a honestidade de propósitos e a convicção dos esportistas negros de que todos os homens e mulheres podem criar realizar e modificar seus destinos foi o combustível que ao longo do tempo incentivou e estimulou cada um deles seguirem adiante, e ainda de quebra, iluminar o espírito dos seus descrentes, as dúvidas, o erro e o engano,
e a falsidade dos conceitos que sempre os mantiveram idiotizados.

A japonesa negra ou a negra japonesa, Naomi Osaka, e, a fadinha, Rayssa Leal, do alto dos seus incríveis treze anos de graça e leveza, categoricamente, definem a verdadeira condição do atleta: os limites são humanos e qualquer ser humano pode igualmente superá-los.