Segundo Arnaldo Antunes, “a coisa mais moderna que existe nessa vida é envelhecer”. A relação do poeta com o tempo é a base de seu novo livro, “Algo Antigo”. No caso de um concretista como ele, o espaço nunca fica em segundo plano. Em seus poemas, o visual que a palavra ocupa na página têm tanta importância quanto o seu próprio significado. Seus textos são objetos impregnados de passado e futuro, dissecadas em um presente constante – o tempo real em que se lê o livro. Como nos versos “Isto / agora se torna / isso / e logo mais se tornará / resquício”, do poema “Resquício”. Até mesmo o sentimento traz o caráter pragmático da biologia: “Não tenho saudades / do que vivi / porque tudo / está aqui / encorpado / dentro de mim / como um fígado / um pâncreas / um rim” (“Saudades”). Até ideias aparentemente simples vêm carregadas de complexidade, como em “Não Entre Nessa”: “Se for fugir / não se despeça”. Antunes é sempre lembrado como o ex-vocalista dos Titãs, mas sua carreira se espalha pelas artes visuais, vídeos e projetos paralelos – como o Pequeno Cidadão, para o público infantil, ou o bem sucedido Tribalistas, com Carlinhos Brown e Marisa Monte. Arnaldo Antunes é inquieto – como sua obra.

Rubens Chiri

Augusto de Campos, 90

Em 1951, aos 20 anos, o poeta Augusto de Campos publicava seu primeiro livro, “O Rei Menos o Reino”. Era o início da carreira de um dos maiores nomes da poesia no País, um mestre que acaba de completar 90 anos. “É um privilégio para o Brasil ter um poeta-inventor da grandeza de Augusto de Campos”, define Arnaldo Antunes, em texto para o Itaú Cultural, no qual o compara ainda a Machado de Assis, Drummond, João Cabral de Melo Neto e Guimarães Rosa. Junto com o irmão Haroldo de Campos e Décio Pignatari, Augusto é o nosso pioneiro da poesia concreta.