A fotografia é inesquecível.

Encontro do G20 quando Lula ainda era presidente.

Ao centro, num discreto conjunto cor-de-rosa, a Rainha Elizabeth.

Ao seu lado esquerdo, sorridente como uma criança, Luiz Ignácio Lula da Silva.

Atrás do casal, em evidente segundo plano, está Barack Obama.

Foi neste mesmo encontro que, horas depois, Obama disparou a célebre frase:

– That’s my man right here! — quando Lula se aproximou da mesa do café, onde Obama conversava com uma meia dúzia de líderes mundiais de menor importância.

Naquele tempo, só Obama e Lula importavam.

O norte-americano continuou explicando, como se fosse necessário:

– This is the most popular politician on earth!

Revendo a cena, é possível perceber um Lula intimidado, sem ação com o que ouviu.

Lula não estava acostumado a ser colocado numa posição como aquela, onde não precisaria lutar por seu espaço.

Para ganhar tempo, estampa novamente um sorriso na face e tira os óculos para polir as lentes com um lenço, estratégia
que lhe garantiu cerca de 30 segundos para se reagrupar.

Obama, que acabara de lhe dar todo o crédito necessário, já se preparava para deixar a cena, mas Lula já está de volta ao páreo.

Então agarra com força o braço de Obama, que escapava pela direita e faz o que Lula sabe fazer melhor: conchava.

Exatamente.

A cena se conclui com Lula trazendo Obama e todos os outros líderes globais para um “boca pequena” que os microfones não conseguem captar.

Lula era, mais uma vez, o chefe do bando.

O dono da cena.

Mesmo depois do cárcere, Lula estará mais vivo que nunca

O “my man” de Obama.

Assim foi, toda sua história.

Mais do que qualquer político brasileiro, Lula é um artesão de situações como essa.

Costura, alinhava e borda nos mais ásperos tecidos sociais.

Supera, como ninguém, qualquer situação que deixaria sem palavras políticos experientes.

Com Lula, o Brasil foi a estrela do G20.

Com Bolsonaro, fomos a piada.

Inesquecível nosso presidente atual circulando isolado pelo G20, tendo como interlocutor, apenas um garçom do evento.

O mundo da voltas.

E talvez por saber disso, na entrevista para Pedro Bial, Obama evitou ser taxativo em sua análise do que aconteceu com seu “my man” de alguns anos.

Passou por cima e só livrou a própria cara, dizendo que não sabia nada sobre a corrupção naquele período.

Fez bem.

Obama não é bobo.

Basta conhecer a história de Lula para saber que gente como ele é melhor não ter como inimigo.

Só que, para a sorte de Lula, nem todo mundo é sábio como Obama.

Acharam mesmo que um punhado de dias no cárcere poderiam destruí-lo.

E certos de que Lula estava derrotado, seus adversários políticos optaram por protagonizar uma obra bufa da pior qualidade nos últimos anos.

De Bolsonaro a Moro, de Ciro a Boulos, nenhum de seus adversários foi capaz de se consolidar como opção certa para 2022.

Agora Lula está de volta.

E se restava dúvida sobre o impacto que seus dias de cárcere teriam sobre sua imagem, vale conferir a recente viagem à Europa, na semana que passou.

A ida de Lula ao primeiro mundo foi — ao mesmo tempo — um ótimo tubo de ensaio sobre quanto a condenação arranhou sua imagem e um teste inequívoco de sua popularidade na comunidade internacional.

Para desespero da direita, do centro e da esquerda aqui do Brasil, Lula passou com louvor em ambos os testes.

Foi ovacionado diversas vezes.

Alias, a estratégia de, logo no início da campanha, enviar Lula ao outro lado do Atlantico é brilhante porque lá, no exterior, não se controla a narrativa da mídia.

No exterior Lula mostrou aos quatro ventos sua real dimensão como candidato e mostrou a todos que o my man voltou. Agora aguenta.