Em Julho de 2021, bem no meio da pandemia, entrando no verão de Lisboa, fui convidado pelo governo do Estado de São Paulo para assistir à cerimônia de reinauguração do Museu da Língua Portuguesa. Nessa altura já vivia o sonho e conhecia o movimento. Mas agora a possibilidade de levar o museu para Portugal é uma realidade. Parabéns Coimbra.

Foi quem conhecem bem o trabalho da nossa Associação e a qualidade e entusiasmo que colocamos em nossos projetos (culturais) que mandaram o convite: venham! Diogo, será um momento maravilhoso! Aí eu falei: Obrigado Andrea! E fui.

Nesse dia frio, em que faziam 4 graus centígrados em Sampa, escrevi aqui um texto-homenagem ao longo caminho que o museu teve de percorrer desde que ardeu, até renascer das cinzas. Cinco anos. Hoje, quase outro ano depois, ele começa a nova viagem: de São Paulo até Coimbra.

São Paulo, Coimbra, São Paulo é um caminho que já fiz dezenas de vezes, e continuo a fazer sempre, verão ou inverno, com o amor e a dedicação daqueles que amam o longe e a distância e, por isso, não sabem viver l, nem sem o infinito, nem longe de casa.

A minha casa-Coimbra – berço secular da minha Alma Mater – é a casa das memórias da minha juventude, da minha universidade, de amores intensos e da infância dos meus filhos; mas a minha paixão sempre se divide com esse outro infinito; a terra prodigiosa, a cidade grande, o interior imenso, a mata atlântica, o sertão, a floresta, o cerrado e o agreste. A minha casa-Brasil.

Tantas viagens depois (sei que farei pelo menos outras tantas mais) a casa e o infinito continuam trocando de lugar. Como se fossem personagens de Assis, poemas de Torga, heróis de Andrade, danças de Saramago, Tágides de Camões ou apenas um banco de jardim eternizado no beijo de Zélia e Amado.

Antes era preciso levar o Museu da Língua Portuguesa para Coimbra, mas hoje ele quer ir! Nem o mais desejado milagre se desenharia melhor. Nem roteiro de Millôr, nem piada de Soares, nem canção do Zeca. O Museu da Língua Portuguesa vem aí.

Sinto que ele cumpre alto o íntimo destino involuntário de Pessoa, como eu cumpro sempre a travessia — 9 mil km de maravilhosos sonhos impossíveis em 10 horas de viagem.

No anonimato discreto da poltrona 24C, olhando da janela o mar, a orla e a linha do horizonte, constato que não recordo mais quantas vezes atravessei o oceano apenas porque acredito que é preciso. (E muitas vezes até contra os conselhos avisados do coração e da carteira.)

Mas se assim não fosse, valer-me-ia a vida de pouco. Porque a minha urgência é permanecer na mudança até que ela se faça destino. Como agora.