A região montanhosa de Nagorno-Karabakh está situada entre Armênia e Azerbaijão ficou conhecida por Transcaucásia e está sob o domínio do Azerbaijão. Sua população é multiétnica e a região é influenciada por Rússia, Turquia e, claro, reivindicada como território armênio. Seu nome também é fruto de uma mistura, a palavra de origem turca, Karabakh, significa “jardim negro”, enquanto que a palavra Nagorno, que tem origem russa, significa “alto”, ou “montanhoso”. Nagorno-Karabakh, portanto, pode ser compreendida como um local montanhoso dentro do território de Karabakh.

Chama atenção que a região do Cáucaso é rica, energeticamente falando. O Azerbaijão é um grande produtor de petróleo e gás natural e o território de Nagorno-Karabakh é rico em minérios, e até mesmo, em ouro. Historicamente o país conta com apoio da Turquia, há oleodutos que vão direto para Ancara. Mas não só, Israel também apóia os azerbaijanos. Já os Armênios tem relações próximas com a Rússia, que busca manter sua hegemonia política, militar e econômica localmente. Portanto, os interesses turcos e russos vão além das disputas territoriais entre Armênia e Azerbaijão.

O presidente da Turquia Recep Tayyip Erdoğan defende o chamado neo-otomanismo, em alusão ao antigo império islamita. E esse é o ponto de inflexão geopolítico. Erdoğan tenta, a qualquer custo, manobrar as relações entre os dois países e pragmaticamente beneficiar-se da contenda. O presidente da Armênia, Armen Sarkissian, declarou recentemente a TV France 24, que Ancara tenta resolver as exasperações em Nagorno-Karabakh intervindo na região militarmente. “Realmente a Turquia coloca suas forças militares em Nagorno Karabakh para alimentar sua influência no território”, diz Massimo Della Justina, professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná.

A Turquia é um país membro da OTAN, e, por tanto, aliado dos EUA e esse é um dos motivos pelos quais não houve, ainda, uma atitude mais potente de Washington em relação a Ancara. O fato é que, os norte-americanos e europeus, por enquanto, não fazem nada para conter o ímpeto de Erdoğan, na região. Washington aplicou sanções econômicas à Turquia, mas por outro motivo, devido à compra do sistema de mísseis antiaéreos S400 da Rússia.

No mais, a diplomacia dos EUA troca farpas verbalmente com os turcos como por exemplo, quando o governo Biden reconheceu publicamente o genocídio armênio (1915-1923). Da mesma forma, diplomaticamente, os turcos respondem. “Uma atitude mais firme por parte dos EUA pode abalar a relação com a Rússia, e é melhor não cutuca o grande urso com vara curta”, pontua Justina.

No ano passado, armênios e azerbaijanos foram as vias de fato, o que gerou 5 mil vítimas fatais entre civis e militares. Um olhar distraído, pode considerar as disputas no território de Nagor-Karabakh diminutas, no cenário global. Porém, no tabuleiro de xadrez da geopolítica internacional, a participação direta de potências como Rússia, Turquia, União Europeia e EUA pode elevar a temperatura da disputa fronteiriça e envolver ainda mais atores de peso num crível conflito regional.