Em 1949, quatro anos após a Segunda Guerra Mundial, 50 adolescentes alemães cruzaram o Oceano Atlântico para se instalar em casas de famílias de classe média nos Estados Unidos. O grupo ficou conhecido como International Christian Youth Exchange (ICYE), uma associação de jovens cristãos que buscava mudar a imagem dos alemães, desgastada por conta do Holocausto, com trabalhos voluntários em outras nações. Essa troca de experiências foi a base para a atividade de intercâmbio cultural. Hoje, tudo é bastante diferente. “Antigamente, falava-se que intercâmbio era apenas para pessoas que queriam aprender um novo idioma. Hoje, é voltado a pessoas que saem do Brasil para fazer algo relacionado a conhecimento e aprendizagem, independentemente da idade”, diz Maura Leão, presidente da Associação Brasileira de Agências de Intercâmbio (Belta). “É um mercado que se reinventa constantemente, com novos destinos e novos formatos de programas.”

No Brasil, o intercâmbio começou a ganhar seus primeiros simpatizantes na década de 1960, por meio de clubes como o Rotary e o Lions Club, mas uma empresa foi fundamental para a estruturação e inovação desse mercado. Fundada em 1971, por um professor inglês chamado Godfrey Feldstein, a Student Travel Bureau (STB) organizava viagens de estudantes brasileiros que queriam passar uma temporada nos Estados Unidos. A empresa patinou por alguns anos até ser adquirida, em 1986, pelo paulistano José Carlos Hauer Santos Jr. “Naquela época era tudo muito difícil. Tínhamos poucos voos para o exterior, a telecomunicação era horrível e não havia como transferir dinheiro para fora do Brasil”, relembra Hauer.

Hoje, a STB conta com 70 lojas no Brasil e um escritório em Sydney, na Austrália. A empresa também reforçou sua operação com vendas on-line e aprimorou o portfólio de produtos. Para adolescentes com inglês fluente, parcerias com as universidades americanas Yale e Stanford oferecem cursos de férias para iniciação em empreendedorismo com aulas de marketing, robótica, computação e tecnologia, além de visitas a empresas. Também há programas multiesportivos, que envolvem a prática de basquete, futebol e tênis. Para quem sente que a prática no inglês está enferrujada, há programas de imersão na língua para profissionais de aviação e Direito, dentre outras.

O LÍDER Gilberto Mingrone, diretor-geral do grupo CI, cursos em 50 países e receita de R$ 325 milhões (Crédito:Claudio Gatti)

Depois de liderar o mercado por décadas, a STB foi ultrapassada pela CI Intercâmbio e Viagem no ano passado, quando sua receita líquida foi de R$ 325 milhões. Para 2019, a meta da CI é crescer cerca de 20%. A empresa ainda pretende iniciar uma expansão internacional, com unidades na América Latina. “O mercado da região se mostra solícito a uma venda consultiva de educação fora do país. É um público que quer a opinião de uma consultoria que mostre o que é melhor para o perfil e o bolso dele”, diz Gilberto Mingrone, diretor-geral do Grupo CI. “Colômbia e México são países que despontam como alvos para nossa expansão.” Hoje são 140 operações distribuídas pelo Brasil e países como Austrália, Canadá, Irlanda e Nova Zelândia, além de programas educacionais ofertados para mais de 50 destinos.

Um dos mercados que mais cresce na carteira da CI é o que mescla trabalho remunerado com estudo. Segundo Mingrone, os principais destinos para esse tipo de programa são Irlanda, Austrália, Canadá e Emirados Árabes Unidos. “A oferta não é tão grande quanto para um curso tradicional, já que não são todos os países que oferecem esse tipo de programa. A legislação local tem que ser favorável”, afirma. Na rival STB, esse modelo também cresce com força. Há uma parceria exclusiva para recrutar funcionários que queiram trabalhar em Orlando. “Nós recrutamos quase mil pessoas por ano para trabalhar na Disney”, diz Hauer.

US$ 1,2 BILHÃO Segundo a Belta, o mercado brasileiro de educação internacional cresceu 20,86% em número de embarques em 2018. Ao todo, 365 mil pessoas foram para outros países. Já o valor movimentado pelo segmento chegou a US$ 1,2 bilhão. Quem viu potencial e resolveu investir no setor foi a CVC Corp, que comprou, em 2016, a tradicional rede de agências Experimento Intercâmbio Cultural por R$ 41 milhões. Com 54 anos de trajetória, a bandeira passa por um momento de profissionalização. Em agosto de 2018, a executiva Carla Gama assumiu a direção geral da companhia. “Estamos investindo em opções para o público profissional e temos programas voltados ao agronegócio na Europa e em Israel”, diz Carla. “Também conseguimos realizar visitas técnicas para áreas como medicina.” Com a força da CVC, a rede quer ganhar fôlego com opções de parcelamento em até 15 vezes sem juros e o programa Poupança Experimento, que permite ao solicitante pagar a viagem e o curso com antecedência. Mais uma força para quem quer ter o mundo na palma da mão.

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