Selos parecem coisas ultrapassadas e fora de moda. Não embelezam mais as cartas, hoje se preferem carimbos, e nem tantas cartas se usam. Foi-se o tempo em que receber um envelope com um selo bonito era uma alegria e também uma fonte de informação. Certamente há muitas crianças, hoje em dia, que nem sabem o que é um selo. Apesar dessa notável insignificância, na semana passada, num leilão na Alemanha, um deles foi vendido pela incrível soma de 1,26 milhão de euros. Se for considerado pelo seu peso, é um dos objetos mais valiosos que existem. Seu nome é Erro de impressão Baden. Foi impresso num tom verde azulado em vez do padrão rosa lilás de sua série. Está estampado num envelope datado de 26 de agosto de 1851. Só existem dois selos do tipo, de 9 centavos, com o mesmo erro. O outro está na coleção do Museu Postal de Berlim.

NEGÓCIO Erro de impressão no selo Baden: tom verde em vez do tradicional padrão rosa lilás de sua série

Esse não é o preço mais alto já pago por um selo. Na Europa, o Three Skilling Yellow, impresso na Suécia, em 1855, foi vendido nos anos 1990 por 2,2 milhões de dólares. Há também o imbatível Black on Magenta, que mede 2,5 por 3,8 centímetros e foi produzido na Guiana Inglesa em 1856, quando houve uma escassez de selos vindos da Inglaterra que ameaçava as remessas postais. Foi impresso em pequena tiragem na gráfica de um jornal e o único magenta de um penny que sobreviveu foi esse. Leiloado pela Sotheby’s de Nova York, em 2014, foi arrematado por US$ 9,5 milhões. O diretor de projetos especiais da casa de leilões, David Redden, o classificou na ocasião como “um objeto mágico, a definição própria de raridade e valor em um nível extraordinário”. O selo mostra uma imagem de um navio de três mastros e o lema dos colonos britânicos: “Nós damos e esperamos retorno”.

Pedacinho de papel

Alguém pode se perguntar: por que se paga tanto por um pedacinho de papel? Porque eles têm importância histórica e um valor simbólico e cultural. E porque há colecionadores e países que ainda o valorizam. Na Inglaterra, por exemplo, há uma empresa que lastreia seus fundos de investimento em selos e moedas raras, apostando que eles podem dar um bom retorno. A Stanley Gibbons chegou a se instalar no Brasil em 2013, mas logo fechou seu escritório. “O que mais valoriza um selo é a exceção, a falha, o defeito”, diz o filatelista Ygor Chrispin. Não é por acaso que alguns dos selos mais caros do mundo contêm falhas de impressão e mudanças de cor. “De um modo geral, o mercado de selos está diminuindo, há uma tendência de queda de preço por causa do enfraquecimento da demanda, mas as casas de leilões européias e americanas ainda dedicam bastante atenção a eles e sempre há interessados nas raridades”.

O que mais valoriza um selo é a exceção e o defeito, como falhas de impressão e mudanças de cor

No Brasil, segundo país a lançar selos postais no mundo, depois da Inglaterra, a filatelia anda devagar. Mas ela tem história. A primeira série brasileira foi a do conhecido Olho de Boi, impressa em 1843 nos valores de 30, 60 e 90 réis. É um dos selos mais valiosos que existem. Em 2008, uma peça com três desses selos juntos, um de 30 e dois de 60 réis, foi vendida num leilão nos Estados Unidos por US$ 2,1 milhões. Mesmo assim, os negócios hoje são escassos. Numa pesquisa no Google conta-se nos dedos das mãos o número de lojas filatélicas que existem em São Paulo. Nos anos 1980, havia dezenas dessas lojas no centro da cidade. Chrispin, de 31 anos, cuja coleção soma cerca de 25 mil selos, reconhece o enfraquecimento dos negócios e a diminuição do interesse dos jovens pelo assunto. Ele estima que existam cerca de cinco mil colecionadores no País. Apesar disso, ainda restam filatelistas apaixonados. Uma surpresa pode acontecer e uma raridade altamente valorizada, aparecer.