Está reaberta a temporada de discursos políticos, que afloram com muita frequência como uma espécie de síndrome do filhinho da mamãe que disputam cargos eletivos. Eles normalmente são sujeitos mimados, que vão a qualquer custo fazer os discursos para o espelho como Narciso ou para as suas progenitoras, principalmente.

Normalmente, esses candidatos têm assessores, que, amedrontados pela possibilidade de perder os empregos, farão eco às suas vaidades. Caso seja genial, o que é pouco provável, esse candidato pode intuir o que precisa ser dito para ser bem sucedido. O mais natural, no entanto, é que se percam em discursos vazios e palavras jogadas ao vento.

Em geral, políticos que chegam a disputar cargos para o executivo, especialmente, têm uma história pessoal de vitórias e de superação. Quando se pensa em postulantes a presidente da República ou a governador de Estado o sarrafo sobe ainda mais.

O mundo espetacular dos holofotes e dos círculos viciados coloca esses candidatos em um admirável mundo da fantasia. Acreditar naquilo que o imaginário do próprio político formulou é o equívoco mais comum.

Por outro lado, alguns candidatos – os melhores principalmente – têm uma sagacidade e capacidade de ouvir o que vai além dos elogios matriarcais. E conselho de mãe é magnífico, mas a restrição a ele é o que se transforma em um grande problema. Ouvindo e interagindo, o político consegue fazer o diálogo necessário.

No Brasil, em 1994, o controle da inflação deu o tom da vitória, assim como, em 2002, o fim do desemprego foi escolhido pela população. Mais recentemente, em 2010, a continuidade de programas sociais se apresentou como a narrativa vencedora. E, por fim, em 2018, o antipetismo venceu. Em nenhuma das ocasiões, o discurso escolhido foi o programado pelos eleitores.

Ele já estava nas mentes, caminhava pelas ruas, dava esperança nas fábricas, bebia cerveja nos balcões dos bares, era sussurrado nas salas de aula, movimentava a economia e espantava os mais desatentos. Cabia aos candidatos ofertados pelos partidos fazer o diálogo mais cabível. Mas é difícil.

Mais do que uma boa análise do mundo real e, portanto, fora da bolha em que se vive, o candidato precisa ter a humildade para entender que não é um salvador da pátria e autossuficiente. Aqueles que conseguem superar essa barreira têm uma vantagem significativa frente aos adversários.

As necessidades estão visíveis a olho nu, mas só quem vive a realidade nua e crua pode dizer com propriedade e para isso as pesquisas são imprescindíveis. Ninguém detém a melhor impressão do todo.

Nesse cenário, faz muito sentido a escolha do cidadão. Se o seu representante não tem meios para conseguir traduzir os anseios em um programa de governo, provavelmente também não terá condições de atender a dinâmica das novas necessidades que vão se apresentar durante o mandato.

Em resumo: tem que falar a mesma língua do eleitor, esquecendo o que sua mãe gostaria que ele falasse.