A perversidade do capitão do Planalto não encontra limites, nem parâmetros morais, de nenhuma natureza. O veto do presidente Bolsonaro ao projeto que garante absorventes grátis a mulheres de baixa renda, tentando eliminar uma das grandes chagas sociais que é a pobreza menstrual, não tem qualquer relação com a responsabilidade fiscal, como ele quis fazer crer. Muito menos se trata de mero equívoco por falta de conhecimento apurado sobre o assunto. É fruto, isso sim, de seu patológico déficit de compaixão e comiseração pelo sofrimento alheio. Misógino típico, Bolsonaro despreza ideias – venham elas de onde for – que favoreçam as mulheres em especial e aos mais humildes, no varejo ou no atacado. Alguém classificou como misantropia a tal ojeriza do mandatário, tantas vezes demonstrada, por causas sociais. Vai além, bem além. Alcança o padrão típico dos genocidas. A ciência demonstrou: É da natureza deles o comportamento sistemático de ataque e sabotagem ao interesse coletivo. Atitudes como essa resvalam no mórbido impulso que alimentam de exterminar parte da humanidade. Como diz o Messias dos trópicos: “morreu, e daí? Faz parte”. Dias atrás, reiterando o mesmo sentimento ao ser indagado sobre o País ter atingido a terrível marca de 600 mil óbitos pela Covid, o presidente reagiu de bate-pronto, repisando o baixo grau de preocupação com o drama nacional: “não vim aqui me aborrecer”. Atender às carências da população? Esquece, não é com ele. Causa horror e choca qualquer um, decerto, a ausência de sentimento humanitário. Mas é assim mesmo. Feijão, vacina, absorvente, coloque o problema que for e despertará no “mito” a mesma repulsa e lacrações típicas, invariavelmente lançadas como gracejos: “nada está tão ruim que não possa piorar”, disse outro dia. No lugar de feijão, fuzil, sugeriu também. No plano da pobreza menstrual, Bolsonaro capricha na maldade. Mais de quatro milhões de jovens, entre pré-adolescentes e adolescentes, enfrentam diariamente a vergonha da ausência desse item mínimo para a higiene pessoal, chegando inclusive a faltar à escola no período menstrual para evitar o constrangimento da situação. O presidente exibe uma monstruosidade inominável dada a realidade do quadro e considerando que a proposta exigiria custos mínimos – estimados em algo da ordem de R$ 85 milhões ao ano – para o atendimento a essa camada de jovens na rede pública. Com a desculpa padrão da ausência de verba para a “despesa extra” foi que ele tratou de sustentar o veto. Na verdade, não quer mesmo disponibilizar a proteção íntima às camadas desassistidas. Entre os interlocutores mais próximos alegou que é “coisa de esquerdista”. Não pegou bem. Foi bombardeado inclusive pelos apoiadores. A decisão pode ser revista, mas Jair Bolsonaro faz questão de expor seu sadismo implacável, chegando aos píncaros da ameaça, apontando que, caso contrariado, cortará recursos da Educação e da Saúde para bancar o projeto. Naturalmente, não é uma questão meramente financeira que está em jogo. Ele não usa do mesmo argumento, por exemplo, quando constrói um orçamento secreto, fora do teto, na casa de mais de R$ 15 bilhões, em gritante pedalagem, para distribuir verbas a rodo e atender ao apetite insaciável de emendas parlamentares dos aliados. O tratoraço está aí, às fuças de todo mundo, para quem quiser ver. Os números, de todo risíveis para o tamanho do benefício embutido no tocante aos absorventes, demonstram que cada menina beneficiada custaria por mês algo em torno de R$ 18 a R$ 24. No total, o gasto com um programa social do tipo é bem inferior ao dispendido em kits Covid sem eficácia, ao de compra de leite condensado e picanha para refestelar os convivas do poder e outra penca de atos notórios de desperdício de dinheiro público, para os quais não há o mesmo tipo de zelo oficial. Uma mera motociata eleitoreira do capitão – e foram inúmeras pelo País – saiu pela bagatela de R$ 3 milhões. Dinheiro lançado no aparato que o cerca, enquanto ele se exibe como débil Arlequim pelas ruas. Os bônus e aumentos salariais concedidos a servidores nos últimos tempos, para angariar voto e apoio (inclusive da caserna), não foram menores. O desfile de tanques pela Esplanada, às vésperas do Sete de Setembro, para deleite e exibição de força de um caudilho alucinado, queimou mais alguns milhões. E qual o benefício? A troco do quê? Em nenhum desses casos o mandatário hesitou ou mostrou-se preocupado e atento no controle das despesas sem lastro. Mas para absorventes íntimos a jovens carentes, sim. Não há como resolver. O presidente, como de hábito, joga às favas os escrúpulos. No fundo, um detalhe político pesou. Foi uma partidária da oposição, logo do PT, a deputada Marília Arraes (de Pernambuco), quem encaminhou a proposta. O capitão de imediato imaginou o quanto a adversária poderia angariar por levantar bandeira tão socialmente justa e vital. Diga-se de passagem, a ideia, na verdade, surgiu de meninas de uma comunidade nordestina que se articularam e mobilizaram as demais para dar corpo e formato final ao projeto. Elas mesmas carentes desse item essencial. Insensível, o pimposo sociopata, numa monstruosidade imensurável, nem quis saber. Enxergou apenas a cor partidária da iniciativa e não o seu caráter meritório que vincula inclusão, saúde e educação. Quem em sã consciência poderia se colocar contra algo assim? A pobreza menstrual é uma das maiores causas de evasão escolar. O poder público tem o dever constitucional de zelar pelo acesso permanente a necessidades sanitárias básicas de qualquer natureza. Estudantes de baixa renda em situação de vulnerabilidade, e mesmo detentas do sistema carcerário, são afrontadas diariamente no direito elementar do uso de absorventes e, no seu lugar, recorrem a panos e papel higiênico por não ter acesso e condições de adquirir o produto. O governo, ao se postar contra a medida que repara tamanha injustiça, caminha cada vez mais rumo à ignorância e à insensatez. Promove um desserviço e, enquanto resiste, de maneira obtusa e deplorável, estados como São Paulo, Pernambuco e Maranhão tomam a dianteira e criam políticas próprias para garantir a distribuição dos absorventes. É fato: cada vez mais os entes da Federação estão percebendo que não podem ficar a reboque, na espera de decisões sensatas, do Planalto. No ciclo de cuidados vitais à população e em meio à tragicomédia da gestão federal, melhor mesmo é agir de costas para as loucuras de Brasília. Não fosse tão desumano, negacionista e indiferente aos anseios do cidadão, o mandatário estaria cumprindo o dever solidário que lhe é cabido. Não há margens para dúvidas. Os fatos são acachapantes. Estamos diante de um cruel e doentio líder que flerta com a barbárie e constrói o caos. As pessoas estão nas ruas “esmolando” ossos para a sopa de seus filhos e Bolsonaro, sintomaticamente, brinca de arminha, chama de “idiotas” quem prefere feijão, vende cloroquina às emas, ignora a vacinação e promove outras bizarrices, incitando o ódio e as fake news, enquanto o povo sofre de maneira implacável. Já chega. É caso de internação. Numa jaula, de preferência, como cabe aos monstros.