Quem são os antepassados diretos do ser humano? De onde viemos? Como nos desenvolvemos? Tais perguntas seguem sem respostas concretas até hoje e impulsionam os esforços da ciência. Todavia, a sede de solucionar mistérios milenares move a área. Foi assim que pesquisadores da Universidade de Poitiers, França, descobriram que a espécie Sahelanthropus tchadensis possui ligação com os macacos e não com os humanos, visto que não eram hominídeos e andavam sob quatro patas em vez de duas.

CIÊNCIA A tecnologia facilitou o estudo do fóssil: material foi achado em 2001, na África (Crédito:Divulgação)

O estudo liderado pela pesquisadora Auge Bergeret-Medina e o paleoantropólogo Roberto Macchiarelli contraria ideias em vigor desde 2001, ano em que arqueólogos encontraram o crânio que apoia a tese de “descendência” humana no deserto do Chade, no continente africano. Na época, acreditava-se que o fóssil tivesse entre 6,8 e 7,2 milhões de anos, e, por conta da semelhança com o cérebro humano, fosse de um hominídeo que andava ereto.

Segundo os especialistas, após análises profundas de um fêmur recuperado na mesma região do crânio, o “mito” do ancestral mais antigo caiu porque o fato de um primata ser bípede é primordial para que ele seja considerado um hominídeo — alguns dentes também foram avaliados. “O fêmur carece de qualquer característica consistente com episódios regulares de viagem bípede terrestre”, diz um trecho do estudo. Para André Strauss, arqueólogo da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em Antropologia Evolutiva, a ciência é movida por descobertas de novos fósseis e está em constante mudança.

“Saber se um primata era bípede ou não é importante para estabelecer uma ligação com os seres humanos” André Strauss, arqueólogo da USP (Crédito:Divulgação)

Novas escavações

“Mesmo que o Sahelanthropus tchadensis não seja um ancestral humano, não quer dizer que o humano não descenda dos primatas”, diz.

“Saber se um primata era bípede ou não é importante para estabelecer ligação com os seres humanos”, afirma. Estima-se que a nova tese promova o avanço das pesquisas nos próximos anos e gere análises mais precisas acerca do passado. “Nada é mais importante do que novas escavações”, ressalta André Strauss. Ao longo da história outras espécies foram associadas aos seres humanos, mas não foram encontradas evidências que comprovassem um parentesco direto.