Após ficar fechada por mais de 40 mil anos, uma câmara a 13 metros de profundidade na caverna Vanguard, na ilha de Gibraltar, território britânico no Sul da Espanha, foi descoberta por arqueólogos do Museu Nacional da localidade. O achado lança novas luzes sobre quem eram os neandertais e quais eram os hábitos desta espécie de humanos que, durante dezenas de milhares de anos, conviveu com o Homo sapiens. Já se sabe que eles realizavam pinturas rupestres em cavernas, tinham rituais religiosos — inclusive, de sepultamento — e em parte foram até nossos antepassados, pois uma pequena parte do DNA deles foi transmitida ao homem moderno na Eurásia. A espécie não viveu na África e nas Américas.

“Nós sabemos que os neandertais viveram na caverna Vanguard há 127 mil anos. Há 40 mil anos, a câmara que descobrimos foi fechada por sedimentos. Foi a última vez que humanos entraram nela, até que nós entramos”, diz Clive Finlayson, diretor e cientista-chefe do Museu Nacional. Finlayson comenta que o avanço das pesquisas arqueológicas sobre os neandertais está mudando a percepção errada que as pessoas têm sobre a espécie, a de que eram trogloditas violentos. “Eles eram humanos inteligentes. Em Gibraltar encontramos o desenho riscado por eles no chão de uma caverna e também descobrimos que eles usavam penas de pássaros para fazer cocares”, explica. Os arqueólogos descobriram que os antigos habitantes da caverna se alimentavam de plantas, peixes, moluscos marinhos e até golfinhos. “Lentamente, estamos mudando a imagem dos neandertais. O paradigma está avançando”, diz Finlayson.

“Lentamente estamos mudando a imagem dos neandertais. O paradigma está avançando” Clive Finlayson, diretor do Museu Nacional de Gibraltar (Crédito:Divulgação)

Covil de hienas

As proximidades da caverna Vanguard também eram habitadas, em determinados períodos, por animais selvagens, como hienas, linces e ursos — a Terra vivia a Era do Gelo e o clima era mais frio. A equipe fez uma descoberta macabra na câmara — o dente de leite de uma criança neandertal de quatro anos, possivelmente arrastado para lá por uma hiena. “Eram tempos muito duros”, diz Finlayson. Segundo ele, o evento que fechou a câmara pode ter sido um terremoto. Por isso, a escavação poderá revelar outras câmaras e até mais cavernas. “É um trabalho muito emocionante”, diz. Segundo ele, a descoberta da câmara pode levar a até décadas de trabalho arqueológico para que os artefatos e restos mortais — de neandertais e animais selvagens — sejam escavados e analisados. As pesquisas devem aumentar o conhecimento sobre a pré-história e as próprias origens da humanidade.