Em um ano marcado por desastres ambientais — Brumadinho, queimadas na Amazônia e derramamento de petróleo no litoral —, seria crucial contar com um Ministério do Meio Ambiente ativo e eficiente para informar, orientar e mobilizar órgãos de Estado. Isso é tudo o que o titular da Pasta, Ricardo Salles, deixou de fazer. Ao contrário, preferiu investir na agenda ideológica e em brigas com os críticos. Como resultado, o combate às catástrofes é ineficiente ou inexistente, a economia é prejudicada e a população sofre com as consequências — entre elas, graves riscos à saúde.

Atualmente, Salles se lambuza com o óleo que já atingiu 268 localidades em nove estados do Nordeste e ameaça o parque marinho de Abrolhos. Enquanto a tragédia se avolumava silenciosamente, ele procurava culpados. O primeiro alvo caiu como uma luva para o governo Bolsonaro: a Venezuela. O ministro anunciou que o óleo provinha desse país, fazendo uma tabela com o presidente, que chegou a falar em “terrorismo”. Com a reação negativa, recuou, mas não totalmente. Em rede nacional de rádio e tevê, 55 dias após o início do desastre, anunciou que a Venezuela seria acionada na OEA.

A próxima vítima da retórica ministerial foi o Greenpeace, que já tinha sido chamado de “ecoterrorista”. No melhor estilo das teorias conspiratórias, Salles divulgou em seu perfil no Twitter que um navio da ONG poderia ser o responsável pelo derramamento de petróleo no litoral brasileiro — sem atinar para a falta de lógica. Uma pequena embarcação não poderia vazar a quantidade de óleo já recuperada, que supera mil toneladas. “Tem umas coincidências na vida, né… Parece que o navio do #greenpixe estava justamente navegando em águas internacionais, em frente ao litoral brasileiro bem na época do derramamento de óleo venezuelano…”, tuitou. A gratuidade da insinuação irritou até o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que o questionou. Para ele, o ministro fez uma “ilação desnecessária”. A ONG disse que o ministro tentou criar uma “cortina de fumaça” e entrou com ação no STF.

Já as ações para mitigar o desastre ambiental, proteger a população, corrigir falhas de supervisão e buscar racionalmente a origem do óleo correm lentamente. Para incidentes dessa natureza, o Ministério tinha um Plano de Contingência, que deveria ter sido acionado em 2 de setembro, de acordo com o protocolo. Mas isso só aconteceu em 11 de outubro, 41 dias depois. Dois comitês que integravam esse plano foram extintos pelo governo Bolsonaro em abril.

Situações Vexatórias

O oleogate é apenas o mais recente de uma sucessão de episódios em que o ocupante da Pasta se expôs de forma vexatória. Em 2018, quando tentou se eleger deputado pelo Partido Novo, Salles apareceu em propagandas ameaçando a “a esquerda e o PT”, a “bandidagem no campo” e a “praga do javali” — a caça ao mamífero é uma de suas bandeiras, ou, melhor, o seu TOC. Especializado na área ambiental no país que tem a maior floresta tropical do mundo, assumiu o Ministério sem nunca ter visitado a Amazônia, conforme admitiu. Na função, criticou cientistas do Inpe, funcionários do Ibama e ambientalistas. Já enfrentou até um pedido de impeachment por crime de responsabilidade e quebra de decoro, de autoria da Rede — arquivado na semana passada pelo ministro do STF Edson Fachin.

O estilo panfletário rendeu-lhe frutos. O ministro incomoda a cúpula do Partido Novo, mas agrada ao presidente, que o apoia. Junto como titular da Educação, Abraham Weintraub, e o das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, Salles faz parte da trinca mais estridente e sem noção do governo, que confunde a gestão com propaganda, enquanto tropeça no dever de casa. Como resultado, o País tem a imagem arranhada e quem paga a conta é a população.