Henrique Meirelles

Em 1984, quando era 1º vice-presidente do BankBoston no Brasil, Henrique Meirelles foi convidado a participar de um curso na Harvard Business School que ensinava executivos a lidar com a economia de guerra. Em tempos de paz, o curso intensivo de quatro meses, criado durante a Segunda Guerra Mundial, é voltado especificamente para a gestão de crise. Mal sabia a direção do BankBoston que, com base, em parte, no conhecimento que adquiriu em Harvard, Meirelles ajudaria o Brasil a vencer duas graves crises econômicas. A primeira em 2008, quando era presidente do Banco Central e superou a repercussão mundial da insolvência do mercado de prime rate dos EUA. E a segunda, este ano, quando, à frente do Ministério da Fazenda, usou toda sua experiência para tirar a economia nacional da pior recessão da história. Não há crise que resista à dedicação e ao talento de Henrique Meirelles, eleito Brasileiro do Ano na Economia.

Desafios 

Aos 72 anos, Meirelles não tem tempo para falsa modéstia. Ele reconhece que cumpriu papel estratégico. Mas faz distinção entre os dois momentos. “Na primeira crise, em 2008, tivemos de contornar o súbito corte das fontes de crédito internacionais. Foi uma missão mais simples do ponto de vista técnico”, explica. Agora, no comando da Fazenda do governo Temer, o desafio, segundo ele, foi muito maior. “Coube-nos enfrentar a maior e mais profunda recessão de nossa história, maior até mesmo do que a dos anos 30. Fomos forçados a lidar com várias questões ao mesmo tempo”, afirmou Meirelles à ISTOÉ. Em primeiro lugar, diz, havia o enorme déficit público. Pesava também a inflação e o desemprego em alta, que provocavam uma desconfiança crescente de empresários e consumidores.

“Coube-nos enfrentar a maior e mais profunda recessão de nossa história, maior do que nos anos 30”

Diante do quadro debilitado que herdou do governo Dilma, Meirelles concluiu que só havia um caminho a tomar: dar um choque de confiança nos agentes econômicos. E foi o que fez. Como cartão de visita, defendeu a necessidade de se estabelecer um rigoroso teto para os gastos públicos nos próximos anos. E conseguiu que o Congresso aprovasse o remédio, apesar de amargo. Em seguida, apoiou o projeto de reforma trabalhista, que alterou vários pontos da CLT, numa iniciativa há muito reivindicada pelas entidades empresariais. Em outra frente, deu prioridade à mudança nas regras da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), praticada pelo BNDES, que deixou de ser subsidiada. Simultaneamente, o Banco Central reduziu os juros básicos para 7,5%, a menor taxa desde 2013. O próximo passo será a reforma da Previdência. Meirelles constata, com sorriso contido, que seu antídoto contra crise está surtindo efeito.