A tilápia, também conhecida nos restaurantes como Saint Peter, é uma espécie de peixe que vive em água doce e representa uma parte importante na economia alimentícia do estado do Ceará. No processo de comercialização desse saboroso alimento, porém, a pele é descartada pelos produtores. Sabendo disso, em 2006, pesquisadores do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM) da Universidade Federal do Ceará, começaram a reaproveitar esse material orgânico para desenvolver um tipo de curativo biológico que tem eficácia comprovada por estudos realizados desde 2017 em pessoas que estavam em tratamento com queimaduras de segundo e terceiro grau.

Conforme o médico Edmar Maciel, coordenador do Projeto Pele de Tilápia, que desenvolveu o produto, as propriedades da pele são ideais para o tratamento de queimados. “A pele da tilápia adere à ferida, faz um tamponamento e evita a perda de líquido”, afirma. O especialista explica que o curativo natural pode antecipar a cicatrização de uma ferida em até dois dias. “Isso acontece porque na tilápia há colágeno tipo 1, muito semelhante ao do organismo humano”, pontua Maciel. Além dessas qualidades, o curativo biológico não precisa ser trocado diariamente, como se faz nos tratamentos convencionais. Essa especificidade ajuda a diminuir as dores locais, o desconforto do paciente e os custos do tratamento.

Paulo Whitaker

Solidariedade

Com a explosão ocorrida na terça feira, 4, em Beirute, no Líbano, que deixou mais de 160 mortos e quase seis mil pessoas feridas, o senso humanitário brasileiro falou mais alto. Por iniciativa da Prefeitura do Rio de Janeiro, resolveu-se disponibilizar ajuda ao país, enviando uma equipe médica e o estoque de 40 mil centímetros de pele de tilápia que havia no País, com a intenção de ajudar no tratamento de pessoas que tiveram o corpo queimado no desastre. A equipe é composta por cinco médicos, que trabalham nos hospitais Miguel Couto e Souza Aguiar, e se disponibilizaram voluntariamente a participar da empreitada.

“Temos a segunda maior comunidade libanesa do Brasil, nos sentimos na obrigação de ajudar de alguma forma”, disse o subsecretário de Saúde do Rio, Jorge Darze. Os médicos direcionados a Beirute são especialistas no atendimento de pacientes vítimas de traumas e queimaduras, capacidades necessárias para minimizar os danos nesse momento. Além da pele de tilápia, medicamentos e insumos de saúde serão enviados aos libaneses. “Também destinamos antibióticos, anti-inflamatórios e analgésicos para a viagem”, conta Darze. Os brasileiros começaram a trabalhar em Beirute na quinta-feira, 13, mas o uso da pele de tilápia ainda carece de consentimento do governo libanês. A pele que foi para Beirute é liofilizada, desidratada e embalada a vácuo. Assim, o uso do curativo “made in Brazil” tem validade de dois anos, podendo se adequar às necessidades de libaneses e brasileiros.