Em sua mensagem de ano-novo dirigida ao povo norte-coreano na terça-feira 2, o ditador Kim Jong-un declarou que todo território dos EUA está ao alcance de suas armas nucleares — e que ele tem um botão nuclear na mesa do seu escritório. “Isso é a realidade, não é uma ameaça”, disse Kim. A resposta de Donald Trump, como de hábito postada no Twitter, não poderia ser mais infantil. “Eu também tenho um botão nuclear, mas é muito maior e mais poderoso que o dele, e o meu funciona!”. Vinda de qualquer presidente americano, uma réplica como a de Trump seria vergonhosa. Dita por ele, é bem pior que isso. Ao tratar como seu brinquedo o botão que pode detonar uma bomba atômica sobre a Coreia do Norte — ou qualquer outra nação —, o magnata que assumiu há menos de um ano o controle sobre a maior potência militar do planeta não está apenas recorrendo à retórica irresponsável que adotou desde sua campanha à Casa Branca. Ele deixa claro que sob seu revolto topete há uma mente destemperada, incapaz de reagir com o mínimo de maturidade a qualquer provocação, e disposta a provar a superioridade do país que governa ameaçando a segurança global.

Ainda que passe os próximos anos sem jamais tocar o avantajado botão sobre sua mesa, Trump não esconde o desejo de protagonizar um conflito internacional. Em dezembro, ao reconhecer Jerusalém como capital de Israel, ele incitou uma nova intifada e arruinou as tratativas de paz entre judeus e palestinos que tanto haviam prosperado no governo de Bill Clinton. Como a maioria das lideranças condenou a decisão, Trump reduziu em US$ 285 milhões a ajuda do governo americano às Nações Unidas no biênio 2018-19. Em fevereiro, apenas um mês após ter assumido a presidência, Trump anunciou um aumento histórico de 9% no orçamento da defesa — o que reforça o caixa do Pentágono em US$ 52 bilhões.

A decisão é coerente com o espírito belicista de seu governo, que acaba de ganhar um retrato explosivo: na terça-feira 9 chega às livrarias “Fire and Fury: Inside the Trump White House”, de Michael Wolff. Com mais de 200 entrevistas, o livro acusa Trump de “traição” e “antipatriotismo” em sua relação com a Rússia durante a campanha eleitoral. Pelo que fez e disse até agora, o presidente dos EUA mereceria ficar de castigo, sem tevê e sem internet. O mesmo vale para seu desafeto norte-coreano. Quem sabe assim eles aprendem a se comportar – poupando o mundo de uma tragédia.

Ao comparar o tamanho de seus “brinquedos”, como fariam duas crianças birrentas,
Donald Trump e Kim Jong-un merecem ficar de castigo: sem tevê e sem internet