Amanhã, sábado, dia 5 de junho, o cantor e compositor Erasmo Carlos completa 80 anos de idade. Pouca gente, bem pouca mesmo, atravessa a vida como Erasmo tem atravessado: exemplo de força e coragem diante de todas as dificuldades do corpo e da emoção, mas em um silêncio, em uma serenidade que nos ensina que a maior grandeza de um ser humano está em sua humildade — e a grande sabedoria, em aprender. É isso que podemos e devemos tirar de lição do oitentão Erasmo – mas nem pensar que ele queira nos ensinar alguma coisa ou nos dar alguma aula. Erasmo, o “Tremendão”, é grandalhão mas fala baixo. E todo mundo ouve.

   Por ser amigo pessoal e o melhor e maior parceiro de Roberto Carlos, Erasmo (o “meu amigo”, como diz o Rei) já seria muito. Mas ele é mais: ele é um Brasil forte, e, ao mesmo tempo, delicado – delicadeza que já existiu em uma cidade igualmente delicada que foi o Rio de Janeiro. Erasmo é delicado, com todas as notas da esperança sem perder o tom da realidade. Um exemplo: comemora 80 anos no sábado e quatro dias depois irá saber se o seu câncer de fígado está de fato sob controle. Algum desespero? Nenhum. Como ele sempre diz, “a vida traz umas coisinhas”.

   No campo da política, para a esquerda e a direita infantis e radicalizadas desse País, e sempre foram assim (existe esquerda e direta não infantis e não infantilizadas?), Erasmo Carlos era um modelo daquilo que se rotulava como “alienado”, alguém que não se preocupava com a situação política do Brasil durante a execrável e nefasta ditadura militar. Em 1984, muita gente emudeceu. Quem abriu a garganta e a voz foi Erasmo Carlos. Pois é, o “alienado” estava no palanque das Diretas Já, na Candelária, no Rio de Janeiro, mescla de show e comício que foi determinante para que o movimento se espalhasse feito raio de luz por todo o Brasil. Erasmo esteve no palanque que se fez essencial para a redemocratização.

   Eu dou os parabéns a Erasmo, com toda a humildade de quem jamais esquece os seus versos: “Eu cheguei de muito longe / e a viagem foi tão longa / e na minha caminhada / obstáculos na estrada, mas enfim aqui estou / Mas estou envergonhado / com as coisas que eu vi / mas não vou ficar calado / no conforto acomodado / como tantos por aí”.