Quando as doenças do coração ganharam um tratamento revolucionário com o surgimento do marca-passo na década de 1950, esse salva-vidas media vinte e cinco milímetros e pesava vinte gramas — é como juntar em uma balança vinte clipes de papel. O inimaginável aconteceu. Hoje já se tem o menor marca-passo do mundo. Seu nome é Micra e foi desenvolvido pela Medtronic, empresa especializada no ramo de tecnologia em saúde. O dispositivo agora mede vinte milímetros e pesa menos de dois gramas — é similar a uma cápsula de vitamina comum e cabe na palma da mão de uma criança. Pode-se pensar que não há diferenças relevantes entre o equipamento novo e o tradicional. É raciocínio equivocado, pois a evolução tecnológica mostra-se grande.

Um dos pontos importantes é sua instalação no organismo que é menos invasiva. Além disso, o Micra tem eletrodos internos enquanto o aparelho antigo tem os mesmos eletrodos, mas postos externamente. Há neles cabos de transmissão entre o orgão e o marca-passo, o que pode causar evetuais problemas de funcionamento. “Os cabos danificam-se com facilidade”, afirma Carlos Eduardo Duarte, cardiologista do hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo. Mais: antes, os marca-passos eram implantados no coração do lado de fora, agora ele é colocado no músculo internamente. “Isso melhorou a resposta do equipamento e o tempo de recuperação do paciente”, diz o médico. Como é possível perceber, os componentes do Micra – bateria, processadores e sensores – são muito menores. “Esse fato demonstra o esforço de engenharia introduzido no produto”, pontua o cardiologista. Em outros termos, mesmo tendo uma aparência insignificante, o menor marca-passo do mundo mantém a frequência correta do coração.

POTÊNCIA Similar a uma cápsula de vitamina, o Micra apresenta avanços tecnológicos: a engenharia a serviço da saúde

No Brasil já foram feitos catorze implantes e há outros cem mil realizados em todo o planeta. A bancária aposentada Marcia Arruda Pestana Morinari tem 68 anos de idade e foi à oitava brasileira a colocar o Micra. Marcia conta que viveu momentos difíceis: “Sentia-me cansada, não tinha ânimo nem mesmo para fazer as tarefas domésticas”. A apatia passou: “Após a cirurgia, tudo mudou. É como se eu tivesse rejuvenescido dez anos”. A técnica cirúrgica de colocação do marca-passo em Marcia também é revolucionária.