DO ALTO Hotel Mirante do Arvrão, no Vidigal, tem vista deslumbrante e boa comida
DO ALTO Hotel Mirante do Arvrão, no Vidigal, tem vista deslumbrante e boa comida (Crédito:Márcio Alves/Agência O Globo)

Alegre, receptivo, festivo, bem-humorado, hospitaleiro: a sequência de elogios que definem os cariocas e seu estilo de vida é conhecida por quase todos que já estiveram no Rio. Para que a Olimpíada tenha sucesso, a vocação dos moradores da cidade para receber o mundo de braços abertos será, mais uma vez, essencial. E o esforço exigido nem será tão grande, já que o famoso “Can I help you?” (“Posso ajudá-lo?”) faz parte da rotina dos cariocas, acostumados a ver visitantes meio perdidos em busca de cenários incríveis, da melhor caipirinha ou de uma roda de samba. ISTOÉ ouviu pessoas de idades, tribos e regiões diferentes e reuniu as melhores dicas para quem visitará o Rio no período de Jogos Olímpicos, que começam no dia 5 de agosto, e Paralímpicos, a partir de 7 de setembro. Para que os turistas comecem a entender como funciona a cidade, o ator Marcos Palmeira revela o segredo: “Ser ou estar carioca é não se levar tão a sério.” O escritor Alberto Mussa avança na explicação: “Bom humor, no Rio, é sobrevivência. Ser carioca é subverter, é abrandar, é dar a tudo um tratamento informal.” Ao ser perguntado sobre quem seria “a cara do Rio”, o sambista Martinho da Vila disse, sem titubear: “Eu!” E todos concordaram. Martinho é generoso, cordial, democrático e de bem com a vida. Acompanhe as dicas de outros cariocas da gema – não obrigatoriamente nascidos no Rio – para turistas ou moradores da cidade.

ZONA SUL

Maior área turística da cidade, concentra as principais atrações, como o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar, o calçadão de Copacabana e as praias de Ipanema e do Leblon. Mas existem outros locais que valem a visita

Glamour e simplicidade – No luxuoso hotel Copacabana Palace, mesmo quem não é hóspede tem a chance de desfrutar do restaurante e do café, à beira da piscina. Outro programa bem carioca: comer petiscos e frutos do mar no Bar do David, no Morro do Chapéu Mangueira, e arrematar com um chope no Bip Bip.

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Gastronomia na favela – As comunidades da Zona Sul possuem restaurantes e bares premiados, indicados para quem quer comer bem e se deslumbrar com a vista do mar. Na favela do Vidigal, entre os bairros do Leblon e São Conrado, está o Hotel Mirante do Arvrão, que tem agenda de festas e uma das melhores tapiocas da cidade. Dá para chegar ao local de táxi, mototáxi ou carro próprio. As chances de encontrar turistas gringos são grandes.

Jardim Botânico – Se o programa for com crianças, a direção é o parque do Jardim Botânico, com suas belas plantas raras e animais silvestres, como pássaros e macacos. E somente os cariocas sabem que o entorno do parque também tem muito a oferecer. A região é a favorita de Manoela Rabin, 40 anos, chefe de cozinha, que indica as atrações do Horto. “Os bairros do Horto e do Jardim Botânico reúnem trilhas que levam às cachoeiras da Gruta, dos Primatas e do Chuveiro”, diz.

CENTRO

É nessa área que estão as grandes novidades. Legado olímpico e mais recente ponto turístico da cidade, a revitalizada região portuária é a ligação entre o passado e o futuro

História e balada – Próximo ao Museu do Amanhã, o Cais da Imperatriz lembra aonde chegaram os milhões de escravos que padeceram no Rio Colônia. Perto dali está a Pedra do Sal, símbolo de resistência da cultura negra e, hoje, disputado ponto de encontro de balada, acompanhada de samba e choro. O produtor cultural André Bretas redescobriu recentemente a região. “Curto ir ao Morro do Pinto comer um hambúrguer no Bar do Omar, passear na Bhering (antiga fábrica que concentra estúdios de artistas) e ver a pintura do David Choe com o Herbert Baglione no muro do estacionamento”, diz.

CLÁSSICO Ensaio da Mangueira, tradicional escola de samba da Zona Norte
CLÁSSICO Ensaio da Mangueira, tradicional escola de samba da Zona Norte (Crédito:ALEXANDRE SANT’ANNA/Agência ISTOÉ)

Passeio no VLT – Para visitar a região, use o novo Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), que liga o aeroporto Santos Dumont à Praça Mauá, no ponto dos museus. Na área, o visitante pode ir andando até o Museu de Arte do Rio (MAR), onde há um restaurante com belíssima vista do oceano. Outro ponto repaginado é a Praça XV, lar do Paço Imperial e do Arco do Teles, construções históricas do Rio Colônia.

Boemia pura – A Lapa é a casa da boemia na cidade. A empresária Elisa Ventura, carioca de 50 anos que se mudou recentemente para São Paulo, considera a visita ao Circo Voador uma ótima oportunidade de conviver com a democracia do Rio, “onde todos conseguem aproveitar a noite, independentemente de classe social ou geração.” O bairro é um reduto de bares famosos, como o Carioca da Gema, o Boteco da Garrafa, o Bar das Quengas e o Depósito da Ladeira, onde a melhor pedida é beber na calçada, em pé, observando o movimento.

ZONA NORTE

A região menos conhecida pelos turistas guarda recompensas surpreendentes para quem se dispõe a explorar

Samba – A Zona norte reúne grandes escolas de samba, como Mangueira, Salgueiro, Unidos da Tijuca e Vila Isabel. Ou, como resume em bom “carioquês” o músico Sergio Loroza: “Um rolezinho pelo subúrbio já deixa o caboclo entendendo melhor essa cidade, que é multifaces também.”

Mistura fina – Para a cantora e compositora Fernanda Abreu, o que não pode faltar é “um ensaio em escola de samba e um bom baile funk”. Na Academia do Samba, no Salgueiro, esses dois eventos se encontram. A quadra da escola também apresenta o Caldeirão do Funk, comandado por MC Marcinho.

Vila Isabel – O ator Marcos Palmeira também prefere os bares subúrbio. “Vila Isabel sempre é agradável para beber e jogar conversa fora”, diz. O sambista Martinho da Vila, que leva no nome a ligação com o bairro, chancela a escolha: “Fica fora do circuito turístico, mas sou apaixonado. Vila Isabel, o berço do samba, é o melhor lugar.”

Clima de botequim – A sambista Teresa Cristina indica o Clube Renascença, onde grandes nomes do gênero se apresentam, e recomenda os petiscos no Bar do Momo, famoso botequim na Tijuca.

ZONA OESTE

Praias escondidas e belas paisagens estão entre os atrativos da região, que abriga o Parque Olímpico da Barra da Tijuca

Tesouro praiano – Acessível apenas por uma trilha, a praia da Joatinga é a favorita de muitos cariocas que querem distância dos lugares cheios. Entre eles está o escritor e jornalista Luiz Alzer. “Por ser um lugar escondido, de difícil acesso, quase não atrai turistas”, diz. Dependendo da altura da maré, a faixa de areia some e só os surfistas conseguem entrar.

NO MAR A Barra da Tijuca guarda preciosidades, como o quebra-mar, favorito de Zeca Pagodinho
NO MAR A Barra da Tijuca guarda preciosidades, como o quebra-mar, favorito de Zeca Pagodinho (Crédito:MASAO GOTO FILHO/Agência ISTOÉ)

Zeca recomenda – Outro ponto pouco conhecido do Rio, o quebra-mar da praia da Barra da Tijuca é o preferido de ninguém menos que Zeca Pagodinho. “Tomar cerveja ali é o meu programa favorito”, afirma o músico. “É uma das vistas mais bonitas da cidade.” O local não fica muito longe do Parque Olímpico, que abrigará a maioria das competições dos Jogos Rio-2016.

Na natureza – Quem quiser se aventurar deve seguir as placas indicando Grumari e Guaratiba. Depois de um dia no mar, uma peixada no Bira, em Guaratiba, é a pedida ideal. Mas o carioquíssimo Evandro Mesquita tem uma indicação diferente: “O Queimado, vendedor ambulante que tem uma barraca de frutas na feira da Praça do Ó.”