O MBA de Natalie Klein

O MBA de Natalie Klein

Gisele Vitória e Simone Blanes Fotos Luciana Prezia Ela tinha 8 anos e brincava de cama de gato no QG da Casas Bahia, mais precisamente na antessala do pai, o empresário Michel Klein. Ali, as secretárias datilografavam atônitas, administrando as peripécias da pequena herdeira de um dos maiores business do País. ?Uma vez estiquei elásticos e dei nós entre as mesas das secretárias. De repente, chegou um diretor da Philips?, conta Natalie Klein, sentada num pufe da NK Store, sua butique multimarcas de luxo que é referência de sucesso no País. ?O executivo teve que passar por baixo dos elásticos amarrados e meu pai achava a coisa mais normal do mundo. Imagine? Eu ficaria constrangida.? Hoje, aos 38 anos, casada com o estilista Tufi Duek e mãe de Ezra e Ava, de 2 e 3 anos, Natalie traz para o presente a memória da infância. Conta que, após fazer um curso recente de sucessão familiar, aprendeu que a experiência vivida no escritório do pai era sábia. ?Os filhos não podem ter ódio do seu negócio. Se você chega em casa cansada, reclamando, exausta, eles pegam horror ao seu trabalho?, ensina ela. ?Levo meus filhos para o trabalho, eles convivem nesse ambiente. Mesmo que não optem por isso, não terão horror.? MENOS É MAIS Natalie está convencida de que a experiência da maternidade, vivida e celebrada nos últimos três anos, mudou, entre outras coisas, sua forma de liderar. ?Sem dúvida é um MBA completo?, concorda. ?Aprendi a organizar minha agenda, tratar prioridades, exercitar a liderança e delegar. Delegar é também aprender a cobrar. Antes eu tinha que fazer tudo, olhar tudo, resolver tudo?, descreve. ?Otimizo o tempo de um jeito que eu não sabia. Hoje trabalho menos horas por dia (de sete a oito horas), e muito mais do que antes. Organizo tudo de forma que eu possa ficar mais tempo com meus filhos e sem celular.? O lema ?menos é mais? deve ter lá a sua contribuição na grade dos novos negócios de Natalie. Na recente parceria entre a NK Store e a marca de Lingerie Gisele Bündchen Intimates, a empresária experimentou seu olhar de edição, trunfo de seu negócio, para flertar com grandes marcas de varejo. Não demorou para estudar com a marca Hope a possibilidade de assinar uma coleção de lingerie Natalie Klein/NK Store, parceria planejada para o primeiro semestre de 2014. Em outra mesa de negociação, corre o projeto de uma linha de cama, mesa e banho com a sua assinatura para uma rede fast fashion. ?Adoro os trabalhos que saem dos muros da NK. Fazer projetos de móveis, de lingerie ou de estampas é um jeito de sair da rotina de pensar em moda o dia inteiro.? O exercício de pensar em moda all the time aprimorou ao longo do tempo o talento para a curadoria fashion, chave do sucesso de uma multimarcas como a NK. Veio do seu olho clínico a convicção de apostas como a de trazer para o Brasil peças da estilista francesa Isabel Marant. ?Quando Isabel virou febre entre as meninas cool em Paris, a gente começou a vender aqui. O Brasil passou a vender essa marca antes de vários países do Oriente?, cita ela. ?Na nova virada da Balmain, a gente já tinha peças como as calças jeans com joelheiras, que todo mundo fez?, acrescenta. A Nk Store foi criada em 1997 e abriga em suas araras um grupo seleto de importantes grifes como Stella McCartney, Lanvin, Balmain, Givenchy, Issa e Blumarine. A arte de pinçar as peças é curiosa. Muitas clientes narram que não acham nas lojas das próprias grifes peças selecionadas pela multimarca. ?Um diretor da Lanvin esteve aqui e disse que somos a única loja do mundo que compra peças do desfile?, diz Natalie. ?São peças mais conceituais. Não vendemos mais do mesmo. Esse risco é o diferencial da NK.? Natalie brinca que o olhar apurado no negócio traz também efeitos colaterais. ?Chato depois é comprar roupa para si mesma, porque voce fica tão crítica que beira o insuportável. Olho do avesso, olho o tecido, a composição do tecido, o efeito. É assim até nas roupas para os meus filhos.? Mas, quando o assunto é filhos, o olhar de edição ganha nuances mais complexas. Com praticamente dois bebês, imagine a edição para fazer qualquer mala: carrinhos, fraldas, banheiras, latas de leite Nam, com e sem lactose, e ainda ?todos? os brinquedos. Nessa hora, o olhar de edição perde terreno para o leque lúdico de necessidades infantis e, claro, para as corujices. ?Outro dia descobri que minha filha colocou todos os controles remotos da casa na mala para viajarmos, e o Tufi nos encontraria depois. Além de ficar sozinho, ficou sem televisão?, diverte-se. MAIS PODEROSA O MBA da maternidade direcionou-lhe, sim, uma nova forma de liderar. Mas não só isso. Natalie confessa que jamais imaginou que mudaria tanto. A empresária ri, lembrando de ter recomendado um curso de equilíbrio emocional a uma funcionária que viajou a trabalho para fora do país em sua companhia, pouco depois de ter filho, enquanto a moça chorava no avião. ?Eu dizia a Ivana: ?Você tem que se tratar!.? Na minha primeira vez de viajar depois de ser mãe, eu chorava tanto que a aeromoça veio fazendo carinho na minha mão.? Ao desfiar o clássico rosário das dores e delícias de ser mãe, Natalie Klein sorri com os olhos doces e pacíficos de quem conheceu a felicidade. E termina chegando ao ponto: ?Você se acha a pessoa mais poderosa do mundo. Se fiz uma pessoa, posso fazer qualquer outra coisa?.