A prova de que a nova doença do presidente Jair Bolsonaro foi quase uma encenação, algo absolutamente controlado e com baixo risco de agravamento foi a oportuna viagem do vice-presidente Hamilton Mourão para Angola, para participar da Cúpula da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Bolsonaro pretendia criar uma comoção em torno de sua doença intestinal e mostrar mais uma vez que é ungido por Deus, um ser protegido pelo destino. E, para isso, precisava encontrar um grave problema médico, que se manifestou num soluço persistente. Mas ele não queria que o vice ganhasse protagonismo ao assumir o cargo em sua ausência. Foi uma manobra puramente política para expor o pseudo martírio do presidente, que passa pelo intestino, e tirar o principal rival da frente. O fato é que Bolsonaro tem medo de Mourão. E o vice só voltou de viagem no dia em que o titular teve alta no hospital.
Depois de tripudiar sobre o sofrimento e a morte de mais de meio milhão de brasileiros pela Covid, Bolsonaro ainda dá um jeito de se fazer de vítima e de expor suas vulnerabilidades. É sua melhor posição. Quando a situação aperta, ele apela para o intestino e vem com frescura e mimimi. Foi assim com a facada que lhe garantiu a eleição em 2018 ao tirar-lhe de todos os debates e deixá-lo em silêncio. E é assim agora, quando sua popularidade está derretendo e um processo de impeachment passa a ser uma possibilidade real. Dez dias antes da internação, seu filho 02, Carlos Bolsonaro, publicou uma foto do pai no pós-operatório da cirurgia a que foi submetido depois de ter sido esfaqueado. A foto é completamente dispensável (e pode ser uma montagem), mas lembrou o público da facada e preparou o campo para a internação do presidente na semana seguinte.
Bolsonaro não dá ponto sem nó. É um animal político que só pensa em aumentar seu poder e criar estratégias populistas para conquistar apoio. Doente é ainda mais perigoso do que saudável, como provou sua vitória eleitoral. Desprovido de empatia, ele tenta despertar nos incautos a pena e a comiseração pelos seus males intestinais e apela a um sofrimento inexistente e ao risco de morte. Só jogo de cena. Seu problema real é Mourão. Bolsonaro só vai ficar doente de novo se o vice não estiver por perto.