Brasil/Meio Ambiente   1988

Na unidade de conservação de desenvolvimento sustentável Floresta Nacional de Tefé, onde Dione Torquato nasceu, o maior ídolo não jogava futebol e nem protagonizou um filme recordista de bilheteria. Seu herói era o ativista ambiental Chico Mendes, assassinado numa emboscada em 1988, em Xapuri, no Acre. “Chico foi um exemplo de como podemos nos tornar atores de mudanças para melhorias na qualidade de vida e na reivindicação por nossos direitos”, diz Torquato, 29 anos, secretário de Juventude do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS). “Chico tornou possível a criação das unidades de conservação e cabe a nós, jovens, consolidá-las e implementar políticas públicas como saúde, educação e infraestrutura. Ter o território é importante, mas não resolve tudo.”

A criação das unidades de conservação, no entanto, percorreu um longo caminho antes de ser efetivada. Seringueiro desde criança, Chico Mendes aprendeu a ler aos 19 anos e se tornou ativista. Além de lutar por melhores condições para os povos da região, buscava defender a floresta do desmatamento porque ela gera mais riqueza preservada do que devastada. Entre outras estratégias, Mendes e seus companheiros passaram a usar o que chamavam de “empate”: protegiam as árvores com o próprio corpo. Eleito vereador em 1977, passou a receber as primeiras ameaças.

Prêmio da Onu

A repercussão do movimento cresceu. Uma comissão das Nações Unidas foi a Xapuri, em 1987, e Chico Mendes denunciou que vários projetos financiados por bancos estrangeiros estavam levando à devastação da floresta. Levados ao Senado dos EUA e ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), as denúncias acabaram fazendo com que os financiamentos fossem suspensos. Enquanto a tensão contra Mendes em sua terra natal crescia, ele era reconhecido mundialmente. Por sua luta em defesa do meio-ambiente, recebeu o prêmio Global 500, oferecido pela ONU.

Com a implantação das primeiras reservas extrativistas, as ameaças aumentaram. Até que, três dias antes do Natal de 1988, Mendes foi assassinado com tiros de escopeta, na porta dos fundos da sua casa, quando saía para tomar banho. Os mandantes do crime foram Darly Alves da Silva e seu filho, Darcy Alves Ferreira. Darly era dono do Seringal Cachoeira, que havia sido desapropriado para a criação de uma reserva extrativistas. “Quando Chico Mendes se torna uma referência para as futuras gerações e estimula nossas bases de mobilização, significa que ele não morreu, mas ajudou a fortalecer outras lideranças”, afirma Torquato.

“Chico tornou possível a criação das unidades de conservação. Cabe a nós, jovens, consolidá-las” Dione Torquato, 29 anos, secretário de Juventude do Conselho Nacional das Populações Extrativistas
“Chico tornou possível a criação das unidades de conservação. Cabe a nós, jovens, consolidá-las”
Dione Torquato, 29 anos, secretário de Juventude do Conselho Nacional das Populações Extrativistas

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias