15/04/2021 - 10:02
Há anos, Israel e Irã estiveram em confrontos direta ou indiretamente no Líbano, na Síria e na Faixa de Gaza. Mas, nos últimos meses, essa rivalidade se espalhou para o mar, após uma misteriosa série de sabotagens e ataques.
Guerra contra o Hezbollah libanês, aliado de Teerã, operação contra islamitas do Hamas em Gaza, seguidos de centenas de ataques israelenses contra elementos “pró-iranianos” na vizinha Síria: por meio de “parceiros” ou de suas próprias tropas, Irã e Israel protagonizam um longo conflito no Oriente Médio.
Esta guerra também está sendo travada nas áreas de espionagem e cibersegurança, por exemplo, com uma operação do Mossad (serviço secreto de Israel) em 2018, que permitiu o roubo de 55.000 páginas de arquivos nucleares iranianos, partes dos quais foram apresentados a pesquisadores da universidade americana de Harvard.
Nesse contexto, o Irã acusou Israel de perpetrar ataques cibernéticos contra instalações estratégicas, enquanto os Estados Unidos assassinaram o general iraniano Qassem Soleimani no Iraque.
O Estado hebreu sofreu um ataque cibernético contra seu sistema de distribuição de água, enquanto um físico nuclear iraniano proeminente, Mohsen Fajrizadehn, foi morto no final de 2020 em uma operação atribuída ao Mossad em território iraniano.
– “Ligados à questão nuclear” –
“Estamos diante de uma reação em cadeia (…). Para alguns começou com os arquivos roubados pelo Mossad, para outros com o assassinato de Soleimani (…). Esses eventos estão ligados à questão nuclear, e à tentativa iraniana de se posicionar na Síria e à disposição de Israel de evitá-la”, diz o analista Sima Shine.
E, um novo fenômeno, “vimos nas últimas semanas a guerra marítima Irã-Israel depois de permanecer em segredo por dois anos”, acrescenta o diretor do programa sobre o Irã do Instituto de Pesquisas de Segurança (INSS) de Tel Aviv, em teleconferência com jornalistas.
Em 2019, o Irã denunciou ataques a três petroleiros no Mar Vermelho, enquanto Israel tenta conter o suposto tráfico de armas iranianas para seus aliados, mas também limitar a capacidade de Teerã de contornar as sanções dos EUA sobre sua venda de petróleo.
Mas em 25 de fevereiro, as coisas mudaram: um cargueiro israelense, o “MV Helios Ray”, foi atacado no mar. Desde então, as agressões aumentaram: o navio iraniano “Shahr-e-Kord” sofreu o mesmo perto da Síria, seguido pelo cargueiro israelense “Lori” no Mar Arábico, o cargueiro iraniano “Saviz” no Mar Vermelho, e na terça-feira o israelense “Hyperion Ray” perto dos Emirados, de acordo com diferentes fontes.
“Até agora, este conflito marítimo tem sido de baixa intensidade, de tom acinzentado, abaixo do limiar das hostilidades declaradas (…). Mas o ritmo está se acelerando e deve aumentar, até mesmo se espalhando para uma área geográfica maior. E potencialmente novas táticas”, como ataques de submarinos ou drones, segundo o pesquisador Farzin Nadimi, do Washington Institute for Near East Policy.
– “Evitar uma escalada” –
Como nenhum navio afetado sofreu danos graves, deduz-se “esforços calculados de cada lado para evitar uma escalada”, que poderia “comprometer o transporte internacional”.
“Ambos os campos não querem uma escalada, mas a situação pode degenerar, israelenses e iranianos estão cientes disso e estão tentando evitá-lo”, disse à AFP Menahem Merhavy, especialista em Irã da Universidade Hebraica de Jerusalém.
O Irã é severamente afetado pela pandemia de covid-19 e por suas tensões com o Ocidente.
Para os especialistas, não é hora de embarcar em aventuras bélicas. Pelo contrário, tentar fazer com que os Estados Unidos, sob a presidência de Joe Biden, voltem ao acordo nuclear de 2015, abandonado por Trump. Claro, Israel se opõe a esse retorno, mas também não quer antagonizar Washington.