Por muito tempo menosprezados, os manguezais da ilha francesa de Guadalupe, no Caribe, voltaram a ser objeto de preservação diante do desafio das mudanças climáticas e da perda da biodiversidade.

Estas áreas naturais crescem na fronteira entre os mundos terrestre e marinho e desempenham um papel essencial para a maioria dos outros ecossistemas.

“Sem os mangues não temos corais, pastos marinhos e vice-versa. E a mesma coisa acontece com a parte terrestre: os manguezais são um elo com rios, lagoas…”, explica Angeline Lollia, especialista em zonas úmidas tropicais da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), em Guadalupe.

De acordo com um relatório divulgado em 2019, mais de 35% dos mangues do planeta desapareceram em 20 anos, o que evidencia como estas áreas selvagens estão entre as mais ameaçadas do mundo.

O arquipélago de Guadalupe, que inclui os maiores manguezais das Pequenas Antilhas, não é exceção.

“Temos cerca de 3.000 hectares de manguezais”, alguns bem preservados em parques nacionais, mas outros ameaçados pela urbanização, o que desperta preocupação de Lollia, pois, “um mangue degradado deixa de cumprir adequadamente suas funções”, acrescenta.

– Barreira natural –

As ameaças são muitas e quase todas relacionadas ao ser humano, à poluição, à urbanização e à agricultura.

Este ecossistema, que conta com uma vegetação densa e raízes emaranhadas no fundo do mar, recupera muitos dejetos, sobretudo resíduos vegetais. Além disso, protege a costa das ondas e da erosão, purifica e regula o nível da água e também é um berçário de peixes e um habitat essencial a aves e crustáceos.

No entanto, um componente cultural persiste: a crença de que são lugares perigosos ou mágicos, que devem ser evitados ou destruídos, mas essa percepção vem mudando desde o início dos anos 2000.

“A população se conscientizou da importância dos mangues”, especialmente por seu “papel de barreira” contra ciclones, explica a especialista.

O mangue “reduz as inundações”, o que representa um “serviço incrível (…) muito mais eficaz que uma barragem”, enfatiza Médhy Broussillon, vice-delegado da agência francesa de conservação costeira.

Assim como as florestas, este ecossistema também tem a “capacidade de armazenar carbono”, adicionou. Eles “capturam nossas emissões de gases do efeito estufa e, em última instância, nos permitem mitigar o impacto das mudanças climáticas”, pontuou.

Como muitas outras ilhas, Guadalupe também está em risco com a elevação do nível do mar. A parte mais populosa do seu território, em torno de Pointe-à-Pitre, fica a menos de 80 cm acima do nível marítimo.

Diante destas ameaças, as iniciativas de preservação e reconstrução dos manguezais aumentaram. Uma delas é a “Ja-Riv”, localizada em Jarry, um território no centro da ilha que se tornou a terceira maior zona industrial da França.

Desde 2016, a ação tenta recuperar áreas ocupadas por fábricas para devolvê-las à natureza. Até o momento, quatro hectares de mangue já foram reconstituídos.

“Diante das mudanças climáticas, todas as soluções são boas” e o mangue “é uma das melhores”, sublinha Bruno de Gasquet, diretor da concessionária “Cama Premium”, que participa da operação.

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