Nas estantes de madeira do depósito do Museu de Ciências da Terra, no Rio de Janeiro, há mais de meio século estavam esquecidos enormes fósseis de um colosso brasileiro. Encontrado durante a construção de uma rodovia em Presidente Prudente, no interior paulista, eles pertenceram ao maior dinossauro que já andou no território nacional, mas até a semana passada ninguém sabia disso. Na quarta-feira 5 foi apresentada uma pesquisa que, finalmente, possibilitou a identificação, umas das mais importantes da paleontologia do País. O nome dado ao herbívoro é Austroposeidon magnificus, de 25 metros, que viveu há 70 milhões de anos, no período Cretáceo (de 145 milhões a 66 milhões de anos atrás). O recorde anterior era de um animal de 13 metros. Foram pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), do Museu de Ciências da Terra, da Petrobras e da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) os responsáveis por desvendar o mistério, escondido desde 1953. “A descoberta é importante porque ele se revelou o maior dinossauro do Brasil” diz Diógenes Campos, um dos coordenadores do estudo.

ACHADO: Os fósseis, que estavam em estantes do Museu de Ciências da Terra, no Rio
ACHADO: Os fósseis, que estavam em estantes do Museu de Ciências da Terra, no Rio

Registros de abandono

Os gigantescos fósseis, achados pelo paleontólogo Llewellyn Ivor Price (1905-1980), ficaram abandonados ao lado de milhares de outros achados ainda sem identificação por vários problemas. O principal deles é que, na época, os registros eram feitos principalmente por meio dos crânios dos dinossauros. Como foram encontradas apenas vértebras do pescoço e da coluna do magnificus, o animal ficou no fim da fila de prioridades da época. Nos últimos 20 anos, evoluiu um ramo de pesquisa que permite a identificação por meio de outras partes do corpo do dinossauro. Ainda havia outro entrave: o financeiro. Tocado por Camila Bandeira, doutoranda da UFRJ, o projeto inclui custos de transporte, tomografias e análises computadorizadas dos fósseis, por exemplo. “É a eterna falta de dinheiro para fazer tudo”, afirma Campos. “O próprio Price sabia que estava com um dinossauro grande nas mãos, mas fomos nós, os herdeiros dele, que conseguimos levar adiante.”

Agora os restos do magnificus serão expostos e estarão abertos ao estudo para cientistas de outras nacionalidades. Já o acervo do Museu de Ciências da Terra, onde o maior dinossauro do Brasil ficou esquecido, ainda possui mais de 30 mil fósseis catalogados não estudados, e um número bem maior de peças completamente desconhecidas. Ninguém sabe exatamente quantas – as projeções variam entre 200 mil e 1 milhão. “Estamos fazendo uma revisão completa do acervo”, diz Campos. “Sem dúvida, muita coisa ainda pode ser descoberta.”

Mais descobertas

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Duas outras espécies de animais pré-históricos brasileiros foram descobertas por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). As criaturas fazem parte da família dos cinodontes, ancestrais diretos dos mamíferos. Os estudiosos esperam que os achados tragam elementos novos às pesquisas sobre a evolução da classe. Um deles foi encontrado em Santa Cruz do Sul (RS) e data de 230 milhões de anos. O outro (abaixo) estava esquecido no Museu de Ciências da Terra e havia sido achado por Llewellyn Ivor Price em Candelária (RS), em 1946.