Nos próximos dias, a campeã paralímpica Terezinha Guilhermina terá pela frente um os maiores desafios da carreira. De­ficiente visual, depois de 14 anos correndo provas de velocidade ao lado de um guia, ela está prestes a ir sozinha para as pistas. Terezinha fez no ­final do ano passado uma cirurgia de catarata que devolveu parte de sua visão. “É uma parte pequena, quase nada, mas que já me permite ver as linhas que separam as raias”, diz ela. “Para mim, enxergar um pouquinho mais já é uma grande conquista.”

Terezinha é um monumento do esporte brasileiro. Ela coleciona oito medalhas  paralímpicas (três ouros, duas pratas e três bronzes), é a maior medalhista brasileira em Mundiais de Para-Atletismo (treze ouros e quatro pratas) e detém o recorde mundial dos 400 m em sua categoria. A maioria dessas conquistas foi na categoria T-11, na qual os competidores não têm quase nenhuma visão e são obrigados a correr com vendas. Agora, Terezinha sonha competir na T-12, para atletas com visão bastante limitada.

A história de Terezinha começou de maneira dramática. Ela nasceu em Betim, Minas Gerais, no dia 18 de setembro de 1978, em uma carroça que era puxada pelo pai. A mãe deu à luz ali mesmo ao décimo ­ filho do casal. O registro foi feito com atraso, no dia 3 de outubro de 1978, como é comum nas famílias muito pobres. Dali por diante, nada seria fácil na vida da multicampeã.

Terezinha e quatro de seus irmãos têm retinose pigmentar, doença que consiste na degeneração gradativa das células da retina. Ela ficou cega aos poucos, até não enxergar mais nada por volta dos 30 anos. Segundo os médicos, isso aconteceu porque os pais são primos de primeiro grau. O caso mais grave da família foi o de Terezinha. Só agora, aos 39 anos, ela recuperou parte da visão.

Seu começo no esporte foi tardio, aos 22 anos, idade em que a maioria dos atletas já estão formados. Terezinha se inscreveu em uma corrida para de­ficientes visuais organizada pela prefeitura de Betim. Treinou com o tênis emprestado pelos irmãos e, na primeira corrida, chegou entre os primeiros – para nunca mais largar os pódios esportivos. “O que falta agora é ganhar medalha nos Jogos de Tóquio sem a ajuda do guia”, diz. Em se tratando de uma gigante como Terezinha, é bom não duvidar.

ENTREVISTA / TEREZINHA GUILHERMINA

Por que você quer competir na categoria T-12, para atletas que possuem alguma visão?

No final do ano passado, fiz duas cirurgias, uma no olho esquerdo e outra no direito. Os médicos descobriram que eu tinha catarata e disseram que a operação poderia trazer de volta parte da minha visão. Foi exatamente isso o que aconteceu. É uma parte pequena, quase nada, mas que me permite ver as linhas que separam as raias. Por isso quero agora correr sem guia, na categoria T-12. Será um desfecho perfeito para a minha carreira.

Que impacto a cirurgia teve na sua vida pessoal e profissional?

Para mim, enxergar um pouquinho mais já é uma grande conquista. Foi uma sensação sublime, um verdadeiro milagre. Fui para a pista assim que me recuperei da cirurgia. Que delícia correr sem guia.

Como será o processo de transição da categoria T-11 (atletas que correm com vendas e guias) para a T-12 (sem vendas e, se o atleta quiser, sem guia).

Já comecei os treinamentos e agora preciso me submeter aos testes para a definição da categoria. Seria incrível encerrar a carreira em Tóquio-2020 conquistando uma medalha na T-12.

O que falta conquistar no atletismo?

Eu tenho o sonho de correr uma maratona. Depois disso, acho que a minha carreira estará completa.