Na maioria dos times de futebol, o capitão não serve para nada além de atormentar a vida do juiz e dar uns empurrões no adversário mais arisco. Quando se tem um líder de verdade, você luta por ele, faz o que o sujeito manda, respeita suas ideias, segue seus princípios. Quantos atletas na história exerceram esse papel? Dos capitães efetivos, quantos foram capazes de comandar uma falange de gênios? Destes, quantos eram realmente craques de bola? Quantos foram inovadores a ponto de suas jogadas serem repetidas e reverenciadas com o passar dos anos? Se há alguém que tenha sobrevivido a essa série de restrições, essa pessoa é Carlos Alberto Torres, o eterno capitão da seleção tricampeã na Copa do México, em 1970. Carlos Alberto foi um gigante, mas é uma pena que muita gente só tenha lembrado disso depois de sua morte, na terça-feira 25. Tinha 72 anos e sofreu um infarto.

Carlos Alberto emanava liderança. Você sentia isso em 30 segundos de conversa. Frases firmes, olhar penetrante, nenhum sinal de hesitação. Assim era esse lateral-direito que começou a carreira no Fluminense e que brilhou também no Santos, Botafogo, Flamengo e Cosmos, dos Estados Unidos. Em todos esses times, o “Capita”, apelido tão carinhoso quanto merecido, dava a palavra final nas estratégias do time e até na escalação dos jogadores (em diversas ocasiões, peitou – e dobrou – técnicos tarimbados). Dentro de campo, trouxe uma inovação: começou a atacar como um verdadeiro ponta, o que ninguém fazia na década de 60. Foi, assim, o primeiro ala do futebol, posição hoje em dia tão aclamada pelos especialistas.

A seleção de 70, a maior de todos os tempos, representou o ápice da carreira. O time de monstros como Pelé, Rivelino, Tostão, Gérson e Jairzinho precisava de um líder. Quem seria o capitão para domar tantas estrelas? Os jogadores resolveram fazer uma eleição. Deu Carlos Alberto. “Tinha que ser ele, e mais ninguém”, disse Gérson, na semana passada, pouco depois de saber da morte do amigo. “O Carlos Alberto falava e até o Pelé baixava a cabeça”, declarou Rivelino. Parreira, técnico tetracampeão em 1994 e preparador físico do time de 70, lembrou um episódio revelador. “A gente partia para a final da Copa contra a Itália, eram 10 horas da manhã. O Carlos Alberto me viu com a cara fechada, e perguntou: ‘Garoto, você está preocupado com o quê?’. Eu respondi que estava com medo daquele timaço da Itália. E ele falou, com toda confiança: ‘Para de se preocupar, com esse time que a gente tem, vamos ganhar mole’”. O placar foi 4 a 1.

Se os brasileiros andavam esquecidos do tamanho de Carlos Alberto, os estrangeiros trataram de colocá-lo no devido lugar: o pedestal. Maradona, o maior jogador da Argentina, referiu-se a ele como o lateral mais talentoso de todos os tempos. Beckenbauer, ídolo alemão, falou que “perdeu um irmão”. Os principais times do mundo divulgaram notas de pesar. Todos lembraram de Carlos Alberto por um motivo: o gol, o quarto do Brasil, que ele marcou na final da Copa de 70. É o mais bonito da história do futebol (desculpe, Maradona). Se você não conhece, procure no YouTube.

VITÓRIA: Carlos Alberto ergue a Jules Rimet, em 1970: o primeiro a beijar a taça
VITÓRIA: Carlos Alberto ergue a Jules Rimet, em 1970: o primeiro a beijar a taça

Carlos Alberto foi escolhido capitão da seleção de 70 pelos
próprios jogadores. Fizeram uma eleição e ele ganhou fácil

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