O ano de 2019 ainda não terminou, mas já promete ser inesquecível para o ator e dramaturgo Vitor Rocha – em uma temporada teatral marcada pela escassez de patrocínios, ele conseguiu estrear dois espetáculos, Se Essa Lua Fosse Minha e O Mágico di Ó. Além disso, a peça que o tornou famoso e figura carimbada em todas as listas de novos talentos, Cargas D’Água – Um Musical de Bolso (2018), ganhou uma versão em inglês, que estreou em Nova York em julho e está prestes a chegar a Londres. Finalmente, O Mágico di Ó vai ser levado ao cinema, com a filmagem prevista para o sertão paraibano programada para este mês de outubro.

“Nem nos meus melhores sonhos imaginei um momento tão bom”, diverte-se ele que, prestes a completar 22 anos (dia 13), exibe uma incrível maturidade artística e pessoal. É preciso lembrar que a criatividade é um dos motivos que explicam tamanho sucesso. Vitor nasceu em Pouso Alegre, Minas Gerais, quase na fronteira com São Paulo. Bom ouvinte, alimentou-se da prosódia mineira ao longo de sua juventude, uma forma peculiar de falar em que a poesia ornamenta as palavras.

Foi justamente o roteiro simples, mas singelo que transformou Cargas D’Água no espetáculo revelação do ano passado, entre os musicais. Foi com a mesma linha melódica nos versos, alinhada à musicalidade essencialmente brasileira, que Vitor construiu seus dois espetáculos seguintes. Se Essa Lua Fosse Minha nasceu a partir de Ismália, poema de Alphonsus de Guimaraens (1870-1921), um dos principais representantes do movimento do Simbolismo no País.

O jovem dramaturgo se interessou pelos versos sobre a moça que se permite sonhar com o encontro da matéria com o espírito, uma das principais características daquela escola literária. Enquanto preparava essa montagem, cuja criação dividiu com Elton Towersey, Rocha trocou uma série de telefonemas com Ronny Dutra, ator e diretor brasileiro baseado em Nova York e que cuidava da produção de Out of Water, a versão em inglês de Cargas D’Água, que estreou lá em agosto.

Cordel

Fiel a um estilo próprio que vem solidificando, Vitor Rocha seguiu com O Mágico di Ó, musical em forma de cordel, escrito em parceria com a atriz Luiza Porto. Se nos trabalhos anteriores ele tratou de temas urgentes, como a relação entre padrasto e afilhado (um dos assuntos de Cargas) e relações sufocadas por imposições familiares (Se Essa Lua…), agora Rocha se apoia na migração.

A trama, vagamente inspirada em O Mágico de Oz, é ambientada em um caminhão que roda quilômetros infinitos até chegar à capital paulista. Lá estão Doroteia, uma menina sem imaginação, Osvaldo, um vendedor de folhetos de cordel e outros homens e mulheres esperançosos de uma vida melhor. Para amenizar a viagem, Osvaldo começa a contar uma história em que todos participam.

Uma das sacadas do autor foi buscar no folclore brasileiro elementos para melhorar a trama – assim, o Espantalho é representado por um mamulengo, enquanto o Leão é inspirado no reisado nordestino.

Foi justamente durante uma sessão de O Mágico di Ó, em São Paulo, que surgiu a ideia de transformar o espetáculo em filme. “Depois de assistir apenas 15 minutos da peça, percebi que ali estava um grande material para um longa”, conta o cineasta Pedro Vasconcelos que, terminada a apresentação, conversou com Rocha.

“Claro que gostei da ideia, mas não acreditei que vingaria”, conta o rapaz, surpreendido, dias depois, com um telefonema – do outro lado da linha, Vasconcelos apresentava um plano de trabalho. “Ele me disse que o roteiro seria preservado na medida do possível e que o elenco do teatro seria o mesmo do filme.”

O que também surpreendeu Rocha foi a notícia de que as gravações começam no dia 14 de outubro, na cidade de Cabaceiras na Paraíba, também conhecida como “Roliúde Nordestina” por estar a cidade preparada cenicamente para servir como set de filmagem – lá, foram realizados filmes como Auto da Compadecida, de Guel Arraes, Madame Satã, de Karim Aïnouz, e Cinema, Aspirinas e Urubus, de Marcelo Gomes.

O ambiente é familiar para o diretor, que tem em seu currículo trabalhos como Hoje É Dia de Maria, minissérie dirigida por Luis Fernando de Carvalho, e o longa Dona Flor E Seus Dois Maridos, versão de 2017 que teve sua assinatura. Na Paraíba, serão de 12 a 15 dias de filmagem. Haverá também algumas tomadas em locais conhecidos de São Paulo, como Avenida Paulista e Viaduto do Chá.

“Temos de terminar logo, pois, no dia 7 de novembro, devemos retornar com o espetáculo, agora no Sesc Consolação”, conta Rocha, que já fez um curso de cinema e, portanto, tem uma noção do funcionamento de um set de filmagem.

E, se na peça o elenco toca instrumentos musicais, no filme, as canções entrarão como trilha sonora. “O tema é universal, deve agradar a uma grande audiência”, comenta o dramaturgo.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.